Não fossemos nós exímios na sofisticada arte da culinária e esta seria uma receita impraticável. Senão, vejamos, quando é época de figos ainda não está na altura das laranjas e quando estas clamam para serem colhidas, nem sombra de figos ou afins. Uma quase impossibilidade, não fosse – lá está, mais uma vez, o fator coadjuvante – a nossa despensa estar melhor munida do que o saco do Sports Billy (Google it). Entre laranjas de estufa, ou figos de conserva, arranjamos sempre forma de compatibilizar rodas as aparentes impossibilidades. Assim, mais do que uma simples listagem de ingredientes e como combiná-los, em que momento e durante quanto tempo, este é um voto de fé. Um hino à resiliência. Uma ode à persistência. Características apenas daqueles que querem mesmo muito uma coisa e que de todas as formas lutarão para a conseguir. A cozinha, de resto, é uma das mais bizarras e aguerridas zonas de guerra urbana. Há que domar a química e a vontade de cada um dos ingredientes, a fim de tudo levar a bom porto, ou, pelo menos, a um porto aprazível, onde ancorar a barcaça e confortar o estômago. Agora, munidos de toda esta sapiência, ide e fazei o vosso bolo de figos com laranjas, esse casal tão improvável que até as estações do ano os afastam.

Ingredientes:

– Resiliência – inesgotável

– Engenho – do tipo bastante engenhoso

– Criatividade – absolutamente artística

– Algumas aulas de química – não muitas

Tempo de preparação:

Por vezes, não vamos mentir, toda uma vida. Se a sua for curta, não é grave. Para aqueles que contam morrer de velhos, pode alongar-se um pouco, que isto da resiliência tem lá as suas coisas. Tal como a persistência. Por vezes, o mais certo é desistir. Não se envergonhe, se for esse o seu caso. Não nascemos todos iguais, lá está!

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