O que são totós?

Não. Esta não é uma recensão para pessoas que usam ou abusam de totós e, por totós, entenda-se aqui aquele penteado em que, dividindo ou apenas repartindo o cabelo em duas ou mais madeixas, estas são, depois, presas por elásticos que ficam junto ao couro cabeludo, pendendo as farripas de cabelo dos lados da cabeça ou noutras secções do crânio, à laia de rabos-de-cavalo noutros locais da cabeça, que não a parte de trás, na nuca. Entendido? Esperamos que sim, pois não sabemos descrever esses totós de outra forma. Neste texto, totós são mesmo totós: indivíduos com pendor para a idiotice e falta de inteligência, ou apenas básicos, ou simplesmente vagos. Pertença ou não a esta categoria de gente gira, habituada desde tenra idade às tão old fashion ‘bélinhas’ – para os millenials e centennials, aqui fica o conceito de bélinhas segundo a geração X: ‘Bélinhas’ não são Anabelas pequeninas (achamos mesmo que o nome Anabela caiu de tal modo em desuso que já não existe), são carolos ou apenas chapadas leves, mas irritantes, na testa – pode ler o texto na mesma, até porque o universo se divide em apenas três categorias de seres humanos, a saber, aqueles que levam ‘bélinhas’, os que dão ‘bélinhas’ e aqueles outros que, sonhando pertencer à classe dos dadores de ‘bélinhas’ se limitavam a investir toda a sua sabedoria e agilidade mental na arte de não acabarem recetores das ditas.

A felicidade ou algo equiparado

Após estes devidos esclarecimentos iniciais, para evitar mal-entendidos ou, pior, subentendidos, fique por dentro do manual que elaborámos sobre Felicidade Para Totós, que já vai na edição zero. Upa, upa!

A felicidade é complexa e exige sapiência, razão pela qual nem todos a alcançam ou a alcançam em quantidade suficiente para se considerarem felizes. Dizem os antigos, pessoas que nasceram, imagine-se, no século passado, que a felicidade está nos simples prazeres da vida e por estes entendem coisas tão estranhas quanto: estar ao pé de uma lareira e ouvir o lume crepitar, beber um chá quente num dia de frio, passear num jardim, abraçar as árvores, ouvir as ondas do mar, olhar as estrelas numa noite de verão, ler um bom livro à sombra de uma árvore, andar de bicicleta, assistir ao pôr do sol… Já perceberam, verdade? Tolices. Quantos seguidores é que este tipo de coisas conquista no Insta? Zero, certo? Logo, não é por aí. Falamos com conhecimento de experiência feito, atenção! Chegámos inclusive a tentar este tipo de patetices e não funcionou. Atrás da ideia de que deveríamos abrandar o ritmo e dar valor às coisas de antigamente, ainda reabilitámos o Face, e foi o descalabro. Felicidade, nem vê-la. Meia dúzia de likes, quase todos de loosers e pouco mais. Absolutamente entediante.

Alguns estudos dão como certo que o ritmo acelerado das novas sociedades é o assassino identificado e assinalado da felicidade, já que esta, por alguma razão que ninguém explica, estará mais próxima da lentidão, de vidas calmas e contemplativas, mais viradas para a existência out doors e indivíduos experts em calmaria, feng shui e mood zen.

No laboratório da vida

Lá fomos testar a teoria na primeira pessoa, que isto de ouvir dizer é muito bonito, mas, depois, vai na volta, chegados lá e a coisa não funciona. E é verdade. Não funcionou. Partimos sem rumo certo para o meio da planície alentejana e bem que tentámos contemplar, de forma lenta e calma, os nossos ecrãs 4G e ver qualquer coisa em binge-watching sob a sombra de uma árvore e… nada. Não havia um traço de rede, logo, mais uma mentira a somar a tantas outras. Saímos de lá a correr e garantimos que a única felicidade que experimentámos foi quando conseguimos rede suficiente para um streaming, uma coisinha leve, mas vital pois a nossa mente estava a entrar em modo de privação e precisávamos de acalmar o stress e a horripilante sensação de insegurança que sentíamos, para ali sozinhos, desconectados. A crise foi tão aguda que sentimos necessidade de repor os níveis de digital nas nossas vidas. Por sorte, o Ben estava connosco e ele consegue exorcizar o analógico. Foi o que nos salvou. Mas esse tipo de exorcismo é muito desgastante a nível físico e acabámos famintos. Perguntámos onde era o melhor brunch da zona e as mais de cem respostas aterrorizaram-nos: Nin-guém, mas nin-guém, de verdade, sabia o que era um brunch. Se fossemos desse tempo remoto, poderíamos dizer que aquilo era uma cena do tipo ‘Twilight Zone’, mas como não somos, dizemos apenas que aquilo foi uma experiência no limiar da realidade. Brutal, mas não feliz. Chegámos a vislumbrar um ser ‘decente’, com um tablet e tudo, mas ele era todo Android e nós absoluta e resolutamente iOS. Incompatibilidade total. Estávamos de volta ao ponto zero nesta senda da felicidade a que nos propuséramos e com a adrenalina, própria em experiências limite, no máximo. Chegados ao universo das pessoas normais, só voltámos a nós depois de umas horas de parkur, e outras tantas de realidade aumentada (não confundir com gordos), tal era o pânico.

 

Experiência de quase morte

De volta ao lifestyle citadino, o azar parecia perseguir-nos com a mesma lógica do benchmarketing, replicando-se sem misericórdia. Tínhamos ido no carro da Loop – Loop porque só tira prazer de uma música se a ouvir até à exaustão durante décadas, quase –, que é elétrico e não havia um posto de carregamento disponível. Sem stress e já restabelecidos com os níveis de dióxido de carbono a que estamos habituados, decidimo-nos recorrer à Uber. Não é que a app não funcionava em qualquer um dos nossos smartphones? Desinstalámo-la e voltámos a instalá-la, o que, como é sabido, ainda demora o seu tempo. O Aka foi o mais rápido, mas depois de reposta a aplicação, ele fica sem bateria. Sem bateria! O Aka entrou logo em paranoia. Por sorte, eu tinha umas latas de tinta na mochila e ele lá foi graffitar a frustração numa estação de metro próxima. Uma vez aí, decidimos ir para casa de metro, porque não? É, tipo, vintage. Na gare central descobrimos uma loja de sneakers genial! Achámos que depois daquele dia inenarrável, merecíamos uns ténis top. Sabem o que aconteceu a seguir? Não vão acreditar: todos os multibancos, num raio de um quilómetro, estavam fora de serviço por causa de um vírus no servidor. Sem ténis, por essa altura já quase todos a pouparmos as baterias suplentes, sem forma de regressar a casa de carro ou sequer de metro, pois não tínhamos dinheiro para o bilhete, já sem ânimo, olhámos uns para os outros e decidimos que teríamos, nesse caso, de… ir a pé!! Isso. Andar a pé. Só a Loop, que era quem morava mais longe do centro, teria de percorrer mais de 500 metros. Quinhentos metros é o mesmo do que meio quilómetro! Tivemos de telefonar para casa para que nos fossem buscar. Ficámos sem outra hipótese. Teve de ser. Humilhante.

Analógico sem lógica

Já em casa, decidi sumarizar a aventura daquele dia nuns tweets instastories e hashtags #diadatreta #megainsolito #alentejonuncamais. Ainda achei que haveria algum problema com o meu computador já que o feed de retorno foi nulo. Zero. Andei pela net, para desanuviar, enquanto, no snapchat, ia contando tudo à minha darling, e acabei por descobrir um álbum louquíssimo no Pinterest, do qual sou agora seguidor, se bem que, no que toca a arte, o Artstack é imbatível. Nisto, Loop ordena-me por Messenger que apague dos meus murais qualquer referência àquele dia e a esta idiotice de procurar a felicidade, que a felicidade não existe e que só nos embaraçávamos contando aquelas cenas e isso. Não tardou a que a conversa passasse a ser de grupo e, após horas a dissecar tudo e mais um par de botas, o Aka sai-se com uma confissão: não satisfeito com aquele dia completamente fora do baralho, no qual Murphy foi mesmo lei, ainda tentou ler um dos livros do pai. Outro desastre. Como só consegue alguma mobilidade digna desse nome com os polegares, demorava horas para mudar de página, por isso, nunca mudou de página. Apenas leu a contracapa. Foi gargalhada geral. Foi aí que todos percebemos que a felicidade pode existir, mas jamais a encontraremos no mundo analógico. Estávamos mais bem-humorados e passámos para o Skype. A Pássaro, a miúda mais cool do grupo, sugeriu-nos uma coisa super old school: uma aula de yoga, que faríamos em grupo, ali e naquele momento. Mas eu tinha ficado constipado e começava a acusar temperatura alta. Acabámos por adiar aquela velharia para outro dia.

Nisto, a minha mãe insiste comigo e, sem força para resistir, acabo a noite embrulhado numa pele de rena, a beber chá com mel e limão e a ver uma série muito palerma, que deixa a minha mãe inexplicavelmente feliz. Tudo aquilo fez-me sentir bem, quase feliz e percebi, então, toda aquela história das coisas simples e do prazer analógio. Ahahahah. #ementiraestouagozar!!!!! A felicidade verdadeira só chegou com o wi-fi, que lá em casa é ilimitado (Abençoado pacote!). A felicidade para totós, só acontece aos totós.

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