É impossível confecionar uma açorda alentejana quando não se está no Alentejo. É-nos ainda impossível mentir. Tudo junto, e decidimos agir com a honestidade que nos tem celebrizado dentro e fora do ‘conselho’ (sim, com ‘s’, pois é mesmo uma recomendação, também ela sincera): além de a mentira ter perna curta e termos horror a desproporcionalidades, a mentira também ocupa demasiado espaço e a nossa cozinha, sendo simpática, não é suficientemente grande para acomodar seja o que for que não possa ser cozinhado. Pronto, dito isto, vamos à nossa açorda, de inspiração alentejana, mas que, muito sinceramente, foi feia em casa e a nossa casa não fica no Alentejo, infelizmente! Ainda bem que já tirámos tudo isso do peito, estava a ficar amarfanhado.
Ora, bem, quanto à açorda, segundo entendemos, ela deve seguir os seguintes passos: ferver água, enquanto, à parte, com recurso a um almofariz, se esborracham dentes de alho num generoso fundo de azeite e poejos, ou, na falta destes, coentros. Esta mistela deve, depois, ser colocada no fundo de uma tijela de servir ampla, e sobre ela deve despejar-se a água anteriormente fervida. Mexa bem. Adicione fatias de pão rijo, ou migado, como se diz no Alentejo e ovos escalfados. Oh, pá!, esquecemo-nos do bacalhau. Pode cozê-lo na tal água que tinha de ferver, ou à parte, sendo que, neste último caso, terá mais um tacho para lavar. A opção é sua. O bacalhau adiciona-se à tal tigela grande, de servir à mesa, onde a água foi lançada sobre aquele pesto, vulgo mistela, dos poejos com o alho e o azeite. Por fim, escalfe os ovos neste preparado fervente, ou em mais outro tacho e adicione no final. Ainda dizem que os alentejanos são preguiçosos! Uma injustiça. Só o feito que é, pescar bacalhau nas águas tempestivas do Guadiana, só por si, é uma missão absolutamente impossível, porque é mesmo impossível. Mas sobre isto ninguém fala, não é?!
Ingredientes:
– Uma planície alentejana, para que, com propriedade, possa dizer que fez uma açorda alentejana ou, em opção, uma cozinha em plena Estremadura, para que possa afiançar que confecionou esta deliciosa açorda alentejana da Estremadura.
– Pão rijo fatiado
– Poejos ou coentros, mas coentros é o plano B. Deve mesmo investir em poejos ou criptomoedas (dizem que é um bom investimento, arriscado, mas proveitoso, quando dá proveito)
– Azeite
– Bacalhau, preferencialmente alentejano, não obstante a impossibilidade
– Ovos
– Água e recipiente onde levá-la à ebulição
Tempo de preparação:
Depende do local onde se encontrar. Se tiver de ir de Bragança ao Alentejo, ou à Estremadura que seja, para a correta confeção e até para conseguir algo parecido com poejos, a coisa pode ser impraticável, ou inviável, ou penosa. Se já estiver perto ou dentro destas zonas geográficas, nos limites das coordenadas corretas, é apenas o tempo de uma ou outra fervura de água, desde que já tenha tudo na despensa. Ajudámos?
Adorei, adorei, adorei. Infelizmente estarei no Alentejo este Inverno em vez de nos 2 ou 3 meses seguintes. But such is life. Terei que preparar esta receita longe longe
As açordas, tal como a vida, podem ser madrastas, mas o Inverno é ideal para uma quente e reconfortante açorda, seja no Alentejo, na Estremadura, ou far, far away. Por isso, aproveita-a em qualquer lugar ou estação.