Agregue, num sofisticado complô, uma pilha de cenoura mesmo, mesmo boa, daquela com imensa qualidade, muito bem picada no picador, ou bem, bem ralada por si. A cenoura não é o mais sensível dos seres vegetais, mas há coisas que a ralam sobremaneira. Rala-se imenso, por exemplo, com gente mal-educada, bicas mal tiradas e alguns tons de lilás. Avalie o temperamento da sua cenoura e perceba aquilo que realmente a tira do sério. Depois de bem ralada, essa pirâmide de cenoura, que faria inveja a Gizé, muito embora esta prefira os tons ocres, deve ser incorporada numa clássica massa de bolo ou torta. Atente no ‘clássica’ e não se entusiasme com modernices ou folclores. A aposta recai toda na sobriedade e requinte da antiguidade culinária. Nada de especiarias absurdas – exceto, talvez, uma pitada de noz moscada ou um toque de atrevida malagueta – ou notas em falso do tipo caril ou gengibre, ainda que possam soar-lhe lindamente.
Depois de bem envolvida na típica massa para bolos, acrescente avelãs inteiras de qualidade mais ou menos (ou seja, das que nos impingem por aí) ou, caso prefira, opte por polvilhar a massa com avelãs de qualidade mais ou menos picadas. As avelãs, ao contrário da cenoura, picam-se por dá cá aquela palha, que têm os nervos à flor da casca. Feito tudo isto, coloque numa forma ou tabuleiro, previamente untado de unto, e leve a forno médio, ou alto, ou baixo (vai depender da sua própria altura e mobilidade). Depois de cozido, sirva logo quente para aproveitar o efeito laxante. O restante, guarde para a sobremesa. Pode acompanhar com compota ou requeijão.
Ingredientes:
– Cenouras mesmo boas e algo temperamentais, daquelas que se ralem com relativa facilidade
– Avelãs mais ou menos boas e irritadiças para que sejam facilmente picadas
– Massa de bolo (nem seria preciso referir, claro!)
– Forma ou tabuleiro
– Unto
– Forno
Tempo de preparação:
Se acertar logo na qualidade e temperamento da cenoura e das avelãs, pode ser rápido, mas nada como avançarmos com um intervalo de tempo inclusivo. Há pessoas mais lentas do que outras e não podemos discriminar quem quer que seja. Assim, diríamos um trimestre, vá!
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