Não sou suficientemente versada em culinária para saber quantos tipos de brownies existem, mas estou em crer, na minha santa ignorância – é verdade, a ignorância está santificada –, que falar de brownie de chocolate é uma desmesurada redundância. Um pleonasmo. É tautológico, é o que é. Para mim, um brownie, qualquer brownie, é de chocolate. Não é a este doce e antidepressivo condimento que deve a sua acolhedora cor, a qual deu origem ao nome da gulodice? Adiante, que a origem do étimo não é ingrediente imprescindível nesta receita.

Seja como for, mas ainda por tudo aquilo que já aqui ficou dito, o toque da avelã faz aqui toda a diferença. A tal diferença que faz diferença. Caso contrário, esta seria apenas e tão-somente uma enfadonha receita de brownies, com aquela dose que se conhece de farinha, cacau, açúcar e o tal proporcional número de ovos. A avelã é, aqui e em qualquer outro lugar, o toque disruptivo, tão apreciado por estes dias, exceto por conservadores e ortodoxos de diferentes fações, já que esses teimam em permanecer no passado, não apreciando o presente que esta receita é, nem preparando o futuro degustativo. No fundo – não sei se me estão a acompanhar na parábola –, esta receita é uma metáfora social, deixando claro que, tal como os brownies, haverá sempre aqueles que rejeitam a avelã e aqueloutros que ansiarão por ela, os ditos progressitas.

Por aqui, diremos apenas: “Viva a avelã”, que a pasmaceira do ‘sempre foi assim’ é muito maçadora e sem graça. Uma espécie de posição missionária da culinária, mas não entremos em mais metáforas ou comparações.

Ingredientes:

– Certo pendor sociológico (uma pitada)

– Boa capacidade para ler nas entrelinhas (duas chávenas de chá)

– Destreza interpretativa (uma colher de sopa)

– Apreço por esmiuçar banalidades do quotidiano (a gosto)

– Cacau e tudo o resto (o clássico, nestas situações de brownie)

– Avelã (não esquecer)

Tempo de preparação:

Tudo dependerá da sua capacidade de debate e de observação, de retórica e argumentação.

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