Categoria: + Contidianos (Page 1 of 12)

Contidianos: Substantivo muito indefinido (porque definir já é delimitar), do género que mais aprouver (que somos por todos os tipos de liberdade), em número que se quer sempre muito pluralista (na medida em que quantos mais, melhor).  Sobre eles dizem os mais eruditos, e alguns tolos também: “Um Contidiano por dia, não sabe o bem que lhe fazia!”

Um Bocadinho

O segurança da portaria foi simpático, mas claro que alertou:

– Têm de aguardar cá em baixo. Os serviços só abrem às 8h. Falta quase uma hora. Quando faltarem vinte minutos para as 8h, já poderão subir.

Agradeceram e voltaram para as cadeiras, poucas, do pequeno átrio envidraçado, agrupadas em módulos de três, mas disponibilizando apenas uma cadeira em cada um deles, devido ao distanciamento necessário e ainda mais rigoroso num hospital. Seguramente, uma mãe e um pai e uma … Ler mais

O Dia Em Que As Cidades Deixaram De Falar

Era Outono. Era de dia. À tarde. Foi, portanto, numa tarde de outono, ainda na presença de luz diurna. A hora exata escapa-lhe. Não memorizou esse dado. Não acha sequer que o tenha esquecido. Parece-lhe mesmo que não chegou a anotá-lo, mentalmente ou de qualquer outro modo. Ficou tão aflita e atordoada que só teve atenção para o fenómeno. Para o trágico acontecimento. Lamenta essa falha. Quem sabe não seria importante?! Quem sabe…

Reconhecia de cor o som de cada … Ler mais

As Coisas Que Deixei Por Fazer e Tudo o Que Há Para Fazer

É difícil de contabilizar. Impossível de enumerar. A memória não o permite. A vida não se compadece com essa aritmética, com as contas do que deveria e poderia ter sido feito a cada tomada de decisão, no lugar daquilo que de facto se fez ou mesmo daquilo que deixou de ser feito. Nada fazer já é decidir, já é optar, ainda que a inércia não tenha sido consciente, não tenha sido uma decisão de facto e apenas o resultado de … Ler mais

Almoço de Família

Só o assunto do e-mail – Almoço de Família – já que causava indigestão, o que acionava automaticamente o fluxo gástrico, que tanto descia ao último piso da cave estomacal, como subia a pique até ao céu da boca tornado inferno. Que azia que lhe davam os almoços de família. Era, a bem da verdade, a razão por que sempre se congratulara por não ter família. Sem esta, não havia almoços com a mesma. Nem almoços, nem jantares, nem batizados, … Ler mais

A Menina Adérita Sabia

Faltava o quarto da menina Adérita. Por mais voltas que desse, a fim de tornar menos monótona a rotina diária, que invariavelmente se repetia até à náusea, acabava de forma inevitável a cumprir a ronda de sempre. Todos os dias, após concluída a limpeza dos quartos, dizia para si mesma que na manhã seguinte faria tudo ao contrário, começando pelo que habitualmente era o fim. Logo que fosse buscar o carrinho com os acessórios de limpeza, seguiria pela copa, e … Ler mais

A Corda – Acorda – Corada

Dentro do carro – que cumpria as funções de quarto de motel, bar, cinema, sala de concertos, café e qualquer outra valência necessária a amantes clandestinos – Ezequiel Eduardo olhava Vanessa Caetana com ternura. Não a fixava realmente, apenas repousava nela o seu olhar estático e imóvel ao ponto de desfocar o seu rosto, misturando um olho com o nariz e sobrepondo tudo nos lábios que desciam já para o pescoço. Ainda assim, era ela, mas sem ter de ser … Ler mais

Undo

Celina descobriu cedo como fazer undo na vida. Aconteceu por mero acaso. Sem calculismos ou premeditações. Aconteceu apenas, mas aconteceu logo na sua fórmula mais correta. De forma pura. Genuína. Autêntica. Era a receita original. Sem necessidade de aprimoramentos. Já lá estava tudo. Um sorriso dócil, um pedido de desculpas sincero, ou percecionado enquanto tal, olhos brilhantes de súplica fixos no interlocutor, lamentando ainda mais do que as palavras proferidas, e o mundo retrocedia, voltando ao ponto exato onde estava … Ler mais

P’ráli Estávamos as Duas

P’ráli estávamos as duas. Vistas de fora, apenas duas mulheres sentadas lado a lado. Possivelmente irmãs. Provavelmente familiares ou apenas amigas, que o amor acaba por nos tornar iguais na diferença. Vistas por dentro, dois trapos de gente. Coração apertado. Punhos cerrados. Cerrados de medo, não de fúria. Também de fúria, mas mais de medo. Um medo selvagem, primitivo. Uma tensão que prendia nervo, ossos e carne num aperto inconsciente, involuntário, primário. Por fora, calma, seriedade, olhar perdido no nada, … Ler mais

Pegaria a Vaca de Cernelha, se Preciso Fosse

Era chegado o momento. Não estava para aturar mais tudo aquilo. Uma chefe insegura, que se impunha pelo medo, gerido com insultos e humilhações públicas, rebaixando os funcionários a bel-prazer, em frente de toda a equipa, sem motivos substantivos para tal. E mesmo que os houvesse, todos merecem respeito, mesmo quando erram, mesmo quando não prestam. Gritar. Humilhar. Cuspir ódio sobre as pessoas só revelava o espírito mesquinho que habitava o cargo. Quanto mais insultava, menos valor colocava nas ideias … Ler mais

Deixar Passar o Momento – A Bicicleta Amarela com Franjas

Era o doce e extasiante travo da liberdade. Sem limites. Sem restrições. Sem moralismos. Sem reprimendas ou impossibilidades. Apenas o mundo à sua frente. Apenas ela e o universo. Uma astronauta na enorme aventura do espaço e do tempo. Só assim se é livre. Sem constrangimentos. Apenas vontade e caminho. Apenas ânsia de seguir. Só mais uma volta ao quarteirão. Mais uma ronda pelo bairro. As pernas doridas de tanto pedalar, mas nem sinal de abrandamento ou cansaço. Era livre. … Ler mais

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