Categoria: + Contidianos (Page 3 of 12)

Contidianos: Substantivo muito indefinido (porque definir já é delimitar), do género que mais aprouver (que somos por todos os tipos de liberdade), em número que se quer sempre muito pluralista (na medida em que quantos mais, melhor).  Sobre eles dizem os mais eruditos, e alguns tolos também: “Um Contidiano por dia, não sabe o bem que lhe fazia!”

A última vez

Há algo de absurdamente doloroso e intolerável na última vez. Exulta-se tanto a primeira vez, e nada se diz sobre a última. Não aquela última vez que só a posteriori percebemos ter sido a última vez. Como quando recordamos que vimos sicrano nas últimas férias e estávamos longe de saber que nunca mais estaríamos juntos, ou beltrano ainda ontem e mal sabíamos da impossibilidade de novo encontro. Não. Essa última vez não dói na carne porque passa por ser apenas … Ler mais

O (a)caso da aliança

O olhar de Nuno é distraído por um suave reflexo dourado, que inicialmente não ganha interesse ou significado na sua mente. Começa por nem olhar, mas uns segundos depois – como se a sua mente tivesse ocupado esse nano espaço temporal em conjeturas sobre a possível origem daquele ainda insignificante brilho –, Nuno dedica-lhe atenção. Olha o chão de onde vem aquele pequeno raio luminoso. Dirige-se-lhe. Baixa-se e palpa o chão de madeira dourada do qual a coisa brilhante mal … Ler mais

Apetecia-lhe Matar Alguém!

Apetecia-lhe matar alguém. Não era bem uma vontade, era mais uma necessidade. Seria assim que acontecia com os psico e sociopatas? Também não tinha um alvo específico, ainda que, de imediato, esta vontade se associasse à imagem de um ou outro totó, mas mais fortemente se colava à lembrança de uma centena de estúpidos com quem a sua vida se cruzava amiúde. Não seriam rigorosamente cem, talvez uma mão-cheia. Demasiados, ainda assim, para o seu saudável equilíbrio psíquico e bem-estar … Ler mais

Aquele Homem na Praia  

Não me recordo exatamente. Não consigo precisar se percebi primeiro quem ele era, ou antes quem me parecia que pudesse ser, e, por causa dessa coincidência, passei a prestar atenção àquela família recém-chegada à praia, ou se o meu obsessivo voyeurismo foi espoletado muito antes de tudo isso, com a frase: “Deixa-te de merdas, que ainda agora chegámos, ouviste?”, proferida, em voz alta e descompensada, por um pai e dirigida a uma das três crianças que o acompanhavam. A mais … Ler mais

É a Vida a Acontecer

Olha para o telefone. O ecrã diz-lhe de quem se trata: Teresinha.

– Olá amor do pai.

– Pai, ele está a bater-me. Pai, ajuda-me.

– Ele quem, Teresinha! Quem filha?

– Ele, pai, o Mário… Ai, bruto…

Do outro lado da linha não veio mais informação útil. Um transeunte prestável avisou em que rua estava.

– Teresinha, querida, não saias daí que o pai já está a caminho, vou apanhar o autocarro e logo, logo estou aí. Não saias … Ler mais

ApocaLIPS – Primeiro Beijo ao Chão

Deveria ter percebido, logo que o primeiro beijo caiu. Dei por isso, ainda ele não tinha tocado no chão. Fiquei meio desnorteado. Sem perceber bem porque se tinha ele desequilibrado dos nossos lábios. Como foi que não se conseguiu agarrar ao meu queixo, que fosse?! Como foi que a minha mão não o alcançou a tempo?! Facilmente o recolocaria onde de nunca deveria ter escorregado. O pobre. Tu olhavas-me, com naturalidade, ou assim me pareceu. Fiquei embaraçado, sem saber o … Ler mais

Não Tinham Muito Mais Tempo

Não era fácil de aceitar, menos ainda de processar, mas era o que era. Não podia ser outra coisa. Não podia ser de maneira diferente. Aproximava-se o desfecho de um terceiro ato que não contabilizávamos ainda, na tola crença de que seria para sempre. Eterno e maravilhoso como até então. Não sabemos medir o tempo, pois que desconhecemos o seu fim, apenas nos damos conta, quando damos, do seu princípio, ou antes, do nosso princípio. Do início da nossa consciência … Ler mais

Tabaco, laranja e chocolate – Odor à Primeira Vista

A casa cheirava a tabaco, laranja e chocolate. Um tempero que rimava com o ar aparentemente boémio que a primeira impressão lançava sobre quem lá entrava no papel de noviço. Tornava inesperadamente agradável os primeiros segundos, aqueles em que o ar que entrava da porta da rua aberta diluía o cheiro, o qual, após fechada a porta, se tornava demasiado intenso e enjoativo para se pensar em algo mais, senão na vontade de mudar de cena e de ar. A … Ler mais

A Nova Mãe, Olhos Azuis, Falsidades e Miopia

Queria tanto que a mãe fosse diferente. Mais como as outras mães. Mais como as outras pessoas. Mais… Mais sofisticada, sem dúvida, e mais alegre também. Mais esperta e, já que estava nos ‘És’, também mais espirituosa. Com um humor mais requintado. Acima de tudo, mais graciosa e sensual. Porque não sexy? Mas isso já seria pedir demasiado aos anjinhos. Uma mãe, inevitavelmente, com melhor bom gosto e um guarda-roupa mais atual. Não suportava os ‘casaquinhos de malha’ de uma … Ler mais

CoroNostalgia – Será morrer pior do que não poder viver?

Passava os dias à janela. A ver o mundo. O mundo de quem passava por ali, que o resto do mundo passava noutros lados, por outras janelas. A sua dava para aquela estreia rua. Poucas pessoas, a caminho do trabalho, do café e das compras. Pessoas com crianças que as iam levar e buscar à escola. Isto quando havia escola. Agora, tudo se passava em casa. Havia o mesmo, as mesmas coisas ou parecidas continuavam a acontecer, mas de forma … Ler mais

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