Categoria: Histórias Infantis para Adultos (Page 3 of 11)

Vamos colocar em pratos limpos alguns dos maiores enganos do universo infantil, lançando um foco de pós-modernidade e neurose sobre contos infantis que, com horrores de bisturi e ausência de anestesia, moldaram o espírito feminino durante milénios, deixando claro na mente ‘estrogénica’ as benesses do sacrifício, a alegria da dor, a felicidade da humilhação. Vamos repor a verdade dos factos, porque de parvas as miúdas têm apenas isto: NADA.

O Cervo e o Leão e o TeleMundo Que Acaba de Chegar

De frente para o espelho, Raquel, uma dócil serva dos seus tempos e da sua geração, apreciava o seu corpo tonificado. Agradava-lhe em particular o recorte robusto, mas não em excesso, das pernas. Bem torneadas, ligeiramente musculadas e muito femininas, com os três arcos necessários a umas pernas bonitas, segundo os critérios de avaliação familiares, repetidos a todas as netas pela avó Marcela. Um arco formado na zona dos tornozelos, o segundo imediatamente abaixo dos joelhos e o terceiro entre … Ler mais

O Cão e a Sombra ou o Homem Que Sonhou Ter Tudo em Duplicado

O amor não contempla comparações e mesmo que as admitisse, numa tola suposição, como equiparar emoções, como perceber, em absoluto e sem resquício de dúvida, se um amor é mais feliz do que o outro, em maior quantidade do que outro, mais completo ou perfeito do que os demais? Os afetos, cada um por si, têm vida e existência próprias. Existem na sua exata medida, proporção e dimensão, as quais lhe são exclusivas. Não se podem relacionar nem relativizar perante … Ler mais

O Asno e a Carga de Sal ou o Chico Muito Pouco Esperto

Começava a estar saturado. Como se não houvesse naquela empresa outro funcionário – qualquer outro, atenção, não precisava de ser um CEO ou outro aglomerado de letras em caixa alta –, que não ele, para o trabalho árduo. Sentia-se verdadeiro burro de carga e acreditava mesmo, ao ver-se ao espelho, que já lhe cresciam as orelhas. Não fora esse assunto de uma outra história, e asseguraria que era mesmo verdade, que já se assemelhava ao jumento que o faziam sentir-se. … Ler mais

O Gato a Doninha e o Coelho ou Como a Ingenuidade Não Salva Vidas

A estratégia era boa. Muito boa. A mensagem forte, acessível e bem-humorada. Pelo que conhecia do cliente e por tudo aquilo que lhes tinha sido passado no briefing – aliás, nos vários briefings, que a empresa era poderosa e exigente –, Ismael Coelho sabia que o seu projeto seria o vencedor. Pelo menos a sua ideia, ainda que pudessem querer alterar pormenores. O conceito era imbatível. Há coisas que se sentem, que conseguimos olhar de fora, mesmo quando nascem cá … Ler mais

A Coruja e a Águia e o Frodo Baggins da Bobadela

Tita e Tati – não é erro nem gralha ou dislexia, é mesmo o nome das personagens do episódio que se segue, pelo que podem prosseguir a leitura, mas se querem pormenores irrelevantes eles aqui vão: Tita abrevia Cristina e Tati encurta Tatiana. Melhor assim? – estavam de todo. Sentiam-se estupendas, cheias de pouquíssima roupa e toda ela com imensos brilhos, os quais só encontravam rival no glitter das suas maquilhagens. Tudo em tons tão saturados quanto saturados estavam os … Ler mais

O Vento e o Sol ou Como a Temperatura Influencia o Amor

Ela não quis preocupar-se desnecessariamente. Tinha-o encantado. Tinha-o seduzido. Percebia como ele estava apaixonado por si, como tudo o que dizia e fazia o fascinava, mesmo aquilo que o surpreendia ou com o qual ele não concordava em absoluto. Ele sentia-se de tal forma feliz a seu lado que estava disposto a aceitar todos os seus gostos, preferências ou mesmo caprichos e disparates. Não fosse ela amá-lo tanto e diria que ele ‘estava no papo’, mas isso seria trazer de … Ler mais

A Raposa e o Leão ou a Queda de Uma Bela Possibilidade em Três Atos

Primeiro Ato

Boaventura oscilava entre a excitação e o medo. Em bom rigor, nem era verdadeiramente excitação nem medo. Era bem mais do que apenas isso. Era euforia e pavor. Uma bipolaridade bastante explosiva para o seu sistema nervoso, já para não mencionar a sua condição cardíaca, sempre à beira de um qualquer ataque. Apenas lhe ouvia a voz e já estava naquele estado. Tinha de sair do foyer. De encontrar a rua. De apanhar ar. Estava a hiperventilar … Ler mais

Os Viajantes e o Urso ou Antes, As Viajantes Sem o Urso

Conclusão primeira: Clarisse imaginava melhor do que vivia.

Sempre imaginou, e imaginou-o incontáveis vezes, desde que se lembra de ser gente, que este dia seria especial. Que sentiria coisas que não caberiam nas pobres formas vocabulares e que, por isso, teria de ficar calada durante dias – talvez semanas, chegou mesmo a supor – antes que conseguisse dizer algo que se aproximar-se da enorme felicidade que sentiria. As palavras são pobres, sabia-o bem, e o seu peito rico em coisas … Ler mais

A Raposa e o Corvo ou a Chefe de Cabine e o Viajante de Turística

Lá vinha ela. Conhecia-a tão bem que julgava já saber ao que ela vinha, consoante a sua forma de andar. Hoje vinha pedinchar. Tão transparente. Tão previsível. Ele tinha assumido uma personagem da qual, agora, particularmente agora e por maioria de razões, não lhe apetecia despir. Sempre enfrentara e sobrevivera às investidas matreiras dela recorrendo à única arma à disposição dos educados e humildes: a falsa ingenuidade, ou, dito de outra forma, fazendo-se de parvo. Assim, sabia bem que, para … Ler mais

O Rato e a Ratoeira ou Aquele Lindo Dia de Verão

Zélia Marquesa, administradora do condomínio para o próximo biénio, nem pestanejava. Estaria aquela insignificante criatura, a viver na mais pequena parcela do prédio – umas bem giras, mas exíguas águas furtadas com um lamentável chão de linóleo – a dizer exatamente aquilo que ela, recém-coroada rainha do sofisticado reino de aquém e de além porta de entrada principal, entendia? Estaria o ratito do esconso-mor a exigir obras de manutenção estruturais no condomínio, por conta de uma telha estalada, nem sequer … Ler mais

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