Apesar de geograficamente bastante específica, a receita não deixa de ser desconcertantemente ambígua. Sabemos de onde deve vir o coelho – das Beiras – ou onde ele deve ficar – na beira do prato ou travessa e jamais no meio? Sendo verdade a primeira formulação de pensamento, a que se inclina para a origem regional do animal, então, referimo-nos ao local de nascimento ou à atual morada do mamífero? E ainda que concordemos às cegas com qualquer uma destas últimas duas subpossibilidades, falamos de coelho bravo, do tipo que tem de ser caçado por gente armada e experiente, ou de um doce coelhinho de capoeira, daqueles que até festas nas orelhas e colo recebem antes da ração? Ainda não acabámos. Imaginando que já havia resposta certa, ou acertada, para cada uma das anteriores questões, de que província regional portuguesa falamos: Beira Alta, Beira Baixa ou Beira Litoral? Os mais puristas, optarão seguramente para a mais extremada das bordas, que é precisamente a litoral. Uma beira que é litoral será a mais beira de todas, estamos em crer. No final de todo este enunciado, que discorre do simples título de uma receita que se pretendia caseira e simples, ficamos com um enorme problema matemático entre mãos, quando estas deveriam estar ocupadas com tachos e panelas. Enquanto elaboramos um ficheiro Excel com todas as possíveis variáveis, e elas são demasiadas, e tentamos descortinar a logística e posicionamento do coelho em toda esta operação culinária, não poderemos avançar na lógica da receita. Somos uma cozinha rigorosa, não avançamos para um prato sem dominar todas as possibilidades. Demasiadas incógnitas, quase nos tiram o apetite.
Ingredientes:
– Boa capacidade de leitura e interpretação de títulos de receitas
– Pensamento crítico
– Apreço por dúvidas
– Conhecimentos na elaboração de enunciados
– Pensamento lógico, em concreto e em abstrato
– Conhecimentos de Excel na ótica do utilizador e do utilizado, que só uma perspetiva é pobre
– Mente curiosa
– Perspicácia
– Jamais ver o coelho vivo, não vai conseguir comê-lo (os coelhos são do género ‘super-fofinhos’)
Tempo de preparação:
Se for inteligente, bastarão meia dúzia de revisões de lógica matemática e equações de primeiro, segundo e outros tantos graus. Para os outros indivíduos que não acompanhem o contemplado anteriormente, é difícil e embaraçoso determinar uma quantidade temporal, como bem compreenderão. Não? Também não compreenderam? Deixem. Não se apoquentem e sigam para a Teleculinária, ou qualquer blog de comes e bebes. Lá explicam melhor do que nós. Seja qual for o caso, tanto melhor. Menos um coelhinho fofinho a ser sacrificado por causa de estômagos humanos famintos.
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