A imprensa dava conta de que a ciência tinha feito ensaios e ‘tostado’ o bosão de Higgs, criando a maior torrada do universo, ali para os lados da Baixa da Banheira, Lavradio, a qual figurava já no livro de records Guinness, uma cerveja nascida em Dublin, que ia muito bem com a mega ‘tosta’ de pescada tirada do rio na Barra-Cheia, ainda na embalagem do hipermercado e muito dentro do prazo de validade, que é uma idade validada, também ela, pela ciência dos Homens, a qual, até ver, é o conhecimento mais acertado. Exceto, claro está, quando está errada, mas até nisso é engenhosa, pois que nunca dá nada como certo e volta a testar tudo, como se tudo o que estivesse já decidido estivesse errado, e quanto a erros, bem sabemos, todos cometemos os nossos. Não julgamos, portanto, como fazem certos e determinados juízes, que apontam o dedo a bel-prazer, que é um tipo de prazer que se enternece com o belo. Este, o Belo, era um tipo com uma rede de transportes rodoviários e fartura de dinheiro que é, de entre todos os tipos de farturas, aquele que suscita mais interesse, pois é baixo em gorduras e, não sendo frito, é mais saudável.
Claro que ser rico é bem melhor do que ser saudável, uma vez que dinheiro pode comprar saúde da boa e ainda umas belas cirurgias plásticas, para ludibriar o tempo e a mente, enquanto a saúde compra nada, nem mesmo quando permite trabalhar arduamente. Nos tempos que correm, e eles correm desenfreadamente, o trabalho não rende o necessário, nem para o sustento básico de meia dúzia de ostras e champanhe bruto, que é a mais violenta e temida das versões borbulhantes engarrafadas (há muitas outras fora de garrafas e longe do contexto vínico). Não que sofra de acne, mas porque apanhou indesejado ar quando ainda era apenas vinho à espera da sua hora de ser desarrolhado. Pelo menos é o que se diz por aí, nos anais da história, que é uma espécie de interminável O Senhor dos Anéis, mas com diferentes vogais. Ao contrário das consoantes, vogais são pequenos poderes instalados nos municípios e que estão sempre de boca aberta, a sentenciar coisas absurdas com sonoridades muito estridentes e garridas. Por serem em menor número e com menor influência do que outros poderes, são sempre muito histriónicas e bem mais prepotentes. É a secretária que impede o acesso à pessoa que secretaria. É o administrativo da função pública que olha o computador e repete, sem exceção, que não vai ser possível. Já entenderam. Gente pequenina e insignificante a dar-se ares. Apenas isso.
O que não se entende é aqueloutra notícia, que vinha numa revista, sobre um assassino que saiu em liberdade, incólume e feliz, depois de ter molestado uma filha menor e matado a mulher, que é, de entre todas as coisas que se podem matar, aquela que menos consequências traz, mas apenas se houver uma relação amorosa entre ambos. Por exemplo, se um homem matar a mulher de outro homem, ou apenas uma mulher, que até pode ser a tal secretária má como as cobras, por exemplo, aí, está metido em sarilhos. Mas matando a mulher com quem partilha a sua vida, a dita ‘sua’ mulher, por haver um pronome possessivo, que determina que aquela é, ou era, a bem dizer, a SUA mulher, então, havendo posse, ele está livre da justiça. Não nos estamos a esquecer da criança menor molestada, mas mais uma vez, sendo SUA…
Os pronomes possessivos são lixados. Também nunca me dei bem com preposições. Na verdade, o meu bom português vem da intuição, da muita leitura e de uma constante prática da palavra escrita. Da mesma forma, também nunca me entendi com advogados ou juízes. Falam do alto do seu pedestal de cocó, cheio de palavras, pronomes e preposições e cadeias de palavras raras e pressupostos intrínseca e propositadamente encadeados para que, no final, sejam ininteligíveis. Um ardil, de gás tóxico feito, que está muitos níveis acima do pequeno poder, facilmente desmascarado, já que nem máscara usa, sendo identificável apenas com um mero relance. O próprio ambiente denuncia essas atmosferas polutas e encardidas de gente mesquinha. Já num tribunal, perante gente petulante que se considera e está, a bem da verdade, acima do entendimento comum, tudo é pernicioso de forma macabra e bem mais complexa. Tudo é absoluto. Tudo é carrasco. O desprezo pelos juízes, bem como o receio dos tribunais e dos seus pareceres medíocres e, portanto, do seu reino de prepotência e paternalismo, assegurado por um universo machista alimentado por uma ideologia heteronormativa cisgénero enoja e causa náusea até à perda de sentido e de sentidos. Perdi os meus, mas encontro-os sempre que há necessidade de denúncia. Temos de fazer mais do que o possível e bem mais do que o que conseguimos, todos os dias, em casa própria, para limpar o caminho da sujidade, que o esterco é tóxico. Claro que o preço do gasóleo também é um assassino psicopata e acerca dele pouco fazemos, exceto abastecer.
Parece que há um novo restaurante só dedicado à proteína de origem vegetal, algures na cidade. Pois parece que será esse o futuro: deixarmos de comer proteína animal, para proteger o planeta dos gases produzidos pelas pecuárias, com o metano e o óxido nitroso à cabeça do malefício provocado pelas pobres reses, que não pediram para nascer, menos ainda numa pecuária, e também não desejam morrer precocemente. Não fora a avidez gananciosa dos produtores, não haveria tantas pecuárias, onde se abatem desalmadamente os pobres animais, criados apenas para a morte antecipada, mas sem conseguirem matar a forme ao mundo, preferindo-se o desperdício de tudo e de todos. Mais vale sobrar aos ricos do que bastar aos pobres. É precisamente disto, de pobreza, que vivemos. Somos pobres, muito pobres. Ainda que, com esta afirmação, se ofendam os verdadeiros pobres, aqueles que, mesmo trabalhando, não conseguem comida nem casa. Nem médicos… Por falar destes, estejamos atentos às especialidades fechadas em cada hospital a cada fim de semana, que isto de parir a qualquer hora ou dia da semana, ou ter uma urgência por dá cá aquela palha já é coisa do século passado. Se levar um tiro, apenas morra e se lhe rebentarem as águas, volte a colocá-las no sítio, pois corre o risco de ter de viajar de avião para um qualquer país onde ter filhos quando calha ainda é possível, aceitável e mais ou menos agradável.
Por falar em possíveis, acham possível que continuem a insuflar-se, por via de implantes, rabos, lábios e peitos, masculinos e femininos, por esse mundo rico e fátuo fora? Não era apenas uma moda? E, assim sendo, não estava apenas de passagem como qualquer outra tendência? Não se renovam as modas a cada seis meses ou coisa do género? Se estivéssemos à beira de mais uma idade do gelo, enfim, sempre haveria necessidade de nos agasalharmos, nem que fosse por dentro, com implantes, e, assim sendo, sempre se poupava nos agasalhos, mas sabendo que nos precipitamos para o terceiro anel do sétimo círculo do Inferno de Dante, onde nos aguarda um deserto escaldante fustigado por uma constante chuva de fogo, não fazem muito sentido as ‘carnes’ extra. Talvez sirva para melhor flutuarem quando as calotas do Ártico derreterem na sua totalidade, o que deve acontecer dentro de 3… 2… Um ponto interessante em tudo isto é a forma como, na verdade, seguimos ordeira e encarneiradamente a levar as nossas vidinhas para a frente, com o despertador a alarmar-nos todos os dias às 5h30, a habitual corrida para os transportes ou para a fila, alimentando de gases nocivos a atmosfera, que em breve nos impedirá de respirar, mas mais preocupados com o picar do ponto, para que não nos descontem horas no final do mês. Este, o final do mês, continua a ser mais importante para nós do que o final do mundo.
Já que estamos em ambiente de ‘finados’, é curioso verificar que não há melhor gente do que aquela que morre. A arte de um morto, a hombridade de um ser humano, o seu mérito, a sua honradez, as suas capacidades, méritos e caráter ganham dimensões celestiais aquando da sua morte. Em vida é apenas mais um estafermo a respirar o nosso ar, a ocupar um lugar sentado no metro e a engrossar a fila. Ninguém pode competir com as virtudes dos mortos. É o que diz o jornal, ao colocar nos píncaros um músico acabado de dar entrada na morgue, quando todos sabiam que era um incorrigível misógino, ébrio e de maus fígados com quem já nem a banda conseguia entender-se… A morte é bem refinada. Uma espécie de derradeiro Photoshop. Parece que só nos conseguimos elevar ao nosso máximo expoente quando nos finamos, e finar é uma palavra bem curiosa, já que nos torna finos no falecimento. Será que os obesos também finam? Esta teve piada, ainda que sendo gordofóbica. Mas, olhem é o que é e também não podemos passar a vida a pedir desculpa por sermos precisamente quem somos. Que maçada, tudo isto. Que horas são isto? Ainda há que passar pelo supermercado, caramba! Não vivemos para nos subsistirmos. Sempre a encher e a esvaziar despenas e frigoríficos pela vida fora.
Dizem as notícias que em breve não haverá portugueses. Estamos a rarefazermo-nos. Somos raridade. Fazer um português é hoje tão caro, exigente e extenuante que em breve alcançaremos a raridade do diamante. Claro que não darão tanto por nós, mas que seremos difíceis de encontrar no seu estado puro e natural, lá isso seremos. Toda esta história das maternidades encerradas não ajuda, como já vimos, por uma outra notícia anterior, e mais as greves e as notas de acesso aos cursos de medicina… Quem sabe não consigam replicar-nos por métodos sintéticos, como se faz com os diamantes. Portugueses enlatados. Por falar nisso, será que ainda tenho atum?
Um recente post de um destes novos seres influenciadores, que devem ser uma espécie de lobistas das coisas desinteressantes, mostra como deve ser o ritual de beleza antes do deitar. Exemplifica-o com produtos específicos, cerca de dez numa sequência exata de passos, o quais não se devem baralhar – o que amedronta, pois ficamos a pensar no que poderá correr mal se alterarmos o sérum com o pré-sérum, ou a água micelar com o tónico nutritivo –, e que devem ser daquela marca específica. Entendemos que assim deva ser, pois foi essa marca específica que lhe pagou e não faria sentido meter outro label ao barulho. É bonito e ético, que isto de cuspir no prato onde se come é coisa feia. Infelizmente, nem por isso rara. Basta dar uma olhada às revistas do dito social – que nada tem a ver com sociedade, que é uma outra categoria de assuntos. O social é um daqueles espelhos das feiras que reflete toda a nossa feiura de forma grotesca, ao ponto de não nos reconhecermos ainda que percebamos perfeitamente que somos nós na nossa monstruosidade mais feérica.
Por falar em feiras, tiveram a vossa dose de circos sazonais e amigos secretos. Um amigo secreto está para a amizade como o pai secreto para as famílias. Ou seja, é aquele indivíduo que depois de uma vida inteira sumido, surge um dia por ano, apresentando-se muito afetuoso e todo ele coração e presentes do chinês. Se o amigo é secreto, quer dizer que nada recebemos dele, nem atenção, nem ajuda… Nada. É um segredo. Nesse caso, não é melhor um inimigo conhecido? Sempre é alguém com quem se pode interagir. Tenho de desenvolver mais este conceito, mas a verdade é que misturar amigo e secreto não entusiasma. Não colhe. Exceto se o secreto for de porco e o amigo da onça.
Percebi pelo X – que curiosamente não é um ex de qualquer coisa, mas antes o atual nome de uma ex-coisa que dava pelo nome de Twitter – que o recreio virtual dos adultos é tão imbecil, rancoroso, maldoso e manipulador como o das crianças e nem sequer lhe faltam chupa-chupas. Aquilo é campo minado, organizado em modo lobista e onde todos puxam da malha para achincalhar o universo de pessoas individuais.
Por falar em individuais? Ainda se usam marcadores nas mesas ou agora é tudo mais natura, diretamente em cima da madeira, ou do tampo das mesas seja qual for o material de que são feitas? Há que mantermo-nos a par destas pequenas coisas, pois é nos detalhes que vive a elegância e a distinção.
E aqueloutro, sempre está demente? Só pode, pois anda de pochete e isso é coisa inquietante na betolândia. Até a mulher usa agora uma mola de cabeleireira a apanhar o cabelo. Um cenário que só pode estar a ser produzido por uma equipa muito barata e mal preparada. É demasiado, mesmo em caso de demência real e clinicamente documentada. Quer dizer, a mulher está bem e os filhos também não foram acometidos de loucura, pelo que nada justifica a pochete e a mola de cabeleireira. Devem estar a querer piscar os olhos aos pobres, mas os pobres não estão dementes, apenas sem dinheiro.
Queria muito acertar nas palavras cruzadas à primeira, pois como nunca uso lápis acaba tudo rasurado. Melhor do que tudo seria acertar no Euromilhões, mas dizem no Contas Poupança que mais valia fazer um PPR. Só que o meu PPR tem vindo a perder dinheiro, ou seja, é um mealheiro mensal que anda para trás. Tudo uma miséria.
Por outro lado, há bizarrias quase otimistas, como a daquela mulher que foi mãe de gémeos aos 70 anos e que vinha no jornal, com foto e tudo, na qual se percebiam bem as sete décadas de existência. Será que o ‘mais vale tarde do que nunca’ é mesmo verdade? De um lado, a ciência, parabéns dDo outro, a estranheza. Como é que aquela mãe, entre a fisioterapia, a gestão da reforma, as contas do lar e tudo o mais, vai encontrar tempo para criar, educar e tratar de dois seres totalmente dependentes? O dinheiro encontra sempre um caminho, não é? Nem o impossível o para.
Se o dinheiro não comandasse as nossas vidas quem poderia comandá-las com igual esmero e sabedoria elitista?
Eu estou disponível, se acharem que sou elegível… Mas informo já que não sou do tipo de controlar, pelo que têm todos de ser absolutamente responsáveis, competentes e profissionais. Conseguimos isso tudo? Vamos lá, e ainda acabamos nas notícias. E bem sabemos que mais vale nas notícias do que na morgue com uma etiqueta no dedão do pé.
Moral da história:
Há pessoas que, simplesmente, não sabem resumir e essas, digam o que disserem, são as piores pessoas do mundo, porque roubam vidas, com o muito tempo que nos sugam com as suas insignificâncias. Não há pachorra nem calota polar que resista ao enfado.
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