Eduardo de pé. À sua frente. Dizia-lhe coisas lindas. Coisas que nunca ninguém antes lhe tinha dito. Eduardo não perdia tempo com adjetivos de beleza, cores de olhos e tons de cabelo brilhante que mudava de cor conforme a luz o moldava, entre o louro esverdeado no verão e o caju avermelhado no outono, quase chocolate nos dias de chuva. Eduardo sabia mais do que cores e harmonia. Ele falava-lhe de coisas que nascem dentro de nós e que nem as palavras mais certas acertam dizer. Ele falava-lhe de coisas indizíveis. Se ele soubesse o que ela sentia ao ouvir tamanha poesia. Se ele percebesse como a fazia sentir-se por dentro a cada peça de alma que ele tirava, naquele striptease íntimo e carnal. Se ele sentisse o calor que lhe chegava às faces sem ruborizar. O suor que lhe gelava as mãos pequenas, onde tudo aquilo cabia e teria lugar. Se ele notasse o pedido de beijo que não lhe soube transmitir. Ele solicitava retorno. Um sinal. Qualquer indício de consentimento e de conexão. Um eco do que lhe dizia o seu amor já nu e desprotegido.

Inês não estava acostumada. Não sabia ser especial, ser alvo de atenções, adjetivos e palavras que apenas se lêem, em legendas de filmes ou páginas de livros, frases que não se ouvem. Sentidos e sentimentos que nunca nos foram dirigidos nem digeridos na realidade. Inês não sabia ser visível daquela forma de visibilidade que ele criava para si. Inês só sabia existir no anonimato da normalidade mediana e se lhe pedissem para nomear a sua cor de cabelo diria apenas: castanho. No seu peito, agora desconcertado, lutavam o beijo e qualquer outra coisa que uma boa lupa poderia revelar como sendo um tolo orgulho pueril e ainda demasiado imaturo para se expressar como deve ser. Insegurança e pânico. Insegurança e pânico, como em quaquer primeira vez. Se ele soubesse. Como fazê-lo saber? Ele aproximava-se. Ela recuou. No entender de Iês não foi um recuo, antes um estremecimento. Involuntário. Baixou os olhos brilhantes de felicidade. Tão brilhantes e felizes como o autocolante da trotinete que as suas mãos apertavam para lá do possível. Bem para lá do exequível.  Iria acontecer. O seu primeiro beijo.

Ele entendeu o que ela não queria dizer, simplesmente porque Inês não disse o que realmente queria. Deixou espaço à interpretação de um jovem adolescente inseguro. Ele compreendeu o que não deveria ter compreendido, apenas porque não era essa a verdade. Mas coube-lhe a ele interpretar. Preencher o mundo de vazios que ela espalhou no seu coração e ainda acalmar aquela perna inquieta que não parava de inventar tiques e pequenos movimentos. Quando Inês voltou a abrir os olhos, ele ainda ali estava, mas Eduardo já tinha partido, com o seu saco de palavras nunca antes ouvidas, apens lidas, e com ele a promessa do seu primeiro beijo. Tinha passado o momento.

Fotos By Sheona Ann – Wonder kids – Clément Laguardia – Ian M

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