Como lidar com um estúpido?
1 – Não lide. Não vale, mesmo, a pena. O estúpido será sempre estúpido, na medida em que o estúpido não sabe que o é. Logo, age sempre em conformidade com a sua estupidez, a qual entende e aceita como a ‘normalidade’. Pode até acreditar piamente que é uma boa alma, gentil e educada, e, inclusive, julgar que tem uma personalidade um pouco charmosa, pois o estúpido vive num mundo ilusório e distorcido. O mais certo é ter nascido estúpido, da mesma forma que há gente que nasce linda de morrer.
2 – Lide apenas na medida em que isso lhe possa trazer qualquer tipo de proveito, pois é uma experiência dolorosa, que pode revelar-se, no futuro, em pequenas, médias ou mesmo gigantescas maleitas psicológicas, que exigirão anos e anos de terapia, sem que tenha, sequer, a garantia de que o analista não seja igualmente um estúpido. Não receie ser cínico, hipócrita ou sonso para o fazer. Antes tudo isso do que levar com um estúpido em hora de ponta, ou qualquer outra hora.
3 – Lide apenas em caso de necessidade extrema. Uma emergência (passar à frente numa fila para a casa de banho em dia de concerto do Pequeno Saul, para conseguir fugir dali o mais aliviado possível). Um cataclismo (conseguir a última bola de Berlim na praia, quando, pela hora tardia é certo que não vai haver nova ronda). Dou outros exemplos, mais académicos, para ele, e outro, para ela:
Para ele – Imagine que o técnico enviado pela sua operadora de tv é um estúpido qualificado (alguns são mesmo diplomados em estupidez e fazem disso profissão) e, como se só por si isso não bastasse, a fim de conseguir concertar o que quer que a televisão tivesse, já estava a esgotar duas horas e meia das três horas que ainda faltavam para o início daquele jogo da tal final de uma qualquer taça ou da chegada à meta de uma volta de bicicleta qualquer. Sabe que tem apenas meia hora e a certeza de que não pode ser completamente antipático para o estúpido, pois ainda resta meia hora para safar o dia, além de que um estúpido ofendido… Não há palavras no mundo que consigam ilustrar a besta em que se transforma. Pior ainda, quando exercem qualquer tipo de pequeno poder (as áreas médicas, policiais, jurídicas e qualquer repartição pública são aquelas em que se verifica maior número de sinistralidades).
Para ela – Vai ter o encontro da sua vida. Decidiu frisar um pouco o cabelo, para dar mais volume às raízes e às suas capacidades natas de sedução, e, num ato de sensualidade selvagem, pediu ainda umas madeixas acobreadas. No final, percebe que o cabelo está com um tom entre o verde e o cor-de-rosa e que, com a fúria, partiu uma unha de gel ao pegar no pequeno espelho de mão, para perceber a dimensão do estrago traseiro. Não consegue respirar mas, lá bem no fundo, sabe que se entrar num duelo ao pôr-do-sol com a cabeleireira, ela pode simplesmente deixá-la ainda pior.
Aviso – Parta para a agressão apenas após o problema resolvido, se tiver a sorte de o resolver. Parta, obviamente, para a agressão se o estúpido não resolver o problema. Cuidado, pois, além de estúpido, pode ainda ser violento e desconhecer noções básicas de civismo.
4 – Ao longo de uma vida, por curta que seja, terá sempre de, num menor ou maior número, lidar com estúpidos nas suas diversas variantes, nas quais se inclui, entre tantas outras, o boçal, o idiota e o mete nojo. Dizem os estudos que, por cada indivíduo decente, existem mil e poucos estúpidos, pelo que o destino opera contra si. Mais uma razão para, sempre que encontre um estúpido, lembrar-se das estatísticas e adiar o confronto até ao estúpido seguinte, ciente de que há sempre um estúpido pior do que o anterior. Coragem!
5 – Após lidar com um estúpido, reserve meia hora para si. Mime-se. Faça algo que lhe dê verdadeiro prazer. Vai precisar de toda a energia necessária, para seguir em frente. Se faz meditação, é chegada a hora de colocar tudo em prática. Repita o seu mantra até entrar em órbita (uma órbita qualquer, não é o momento certo para esquisitices). Há retiros no Tibete que são fenomenais, e sabores de gelado que chegam lá perto.
6 – Regra número 1, ou mesmo regra de ouro: evite sempre um estúpido. Pode tornar-se absurdo, pois vai passar a vida a correr, numa gincana social que poderá roçar o mau gosto aos olhos dos outros, ou granjear-lhe epítetos de antissocial, bicho do mato e mais não sei o quê. Ainda assim, acredite, compensa. É uma tarefa hercúlea, prepare-se para o pior, pois, ao contrário de outras espécies, os estúpidos estão em todo o lado, em qualquer profissão, aguentam qualquer tipo de ambiente e temperatura, quase se parecem com qualquer um de nós… Eles são quase um de nós. Esteja atento aos sinais, pois os estúpidos, do mais ao menos refinado, têm alguns traços em comum:
. Grosseira falta de educação
. Acentuada ausência de respeito pelos outros
. São estupidamente (lá está) egocêntricos
. Têm problemas graves de audição, pois raramente ouvem os outros
. Sérios problemas de visão, pois também não medem distâncias
. São inexplicavelmente arrogantes
. Nunca andam sós. Por norma, juntam-se em matilhas mais ou menos organizadas
. Podem ser violentos, não sendo este um traço constante
. Quando denunciados, assumem o papel de vítima e gritam que o mundo não os compreende. Jamais confunda isso com ingenuidade ou genialidade (faça atenção, pois rimam, mas não são sinónimos).
7 – Não se martirize tanto por estar a catalogar ou, para os mais dramáticos, a julgar outro ser vivo. Não se deixe enganar com novas terminologias e embustes médicos. Há a tendência para dar nomes de doenças a alguns tipos de estupidez e a moda é desculpabilizar todo o tipo de ‘coitadinhos’ dos tempos modernos. Siga sempre o seu instinto, pois este vai sempre saber a diferença. Por último, não se esqueça: um estúpido é apenas um estúpido.
Informação útil sobre a espécie estúpida – A estupidez não é um vírus ou bactéria – não obstante poder apanhar-se em maior grau e intensidade com a idade ou após a vivência de um qualquer acontecimento trágico e/ou traumático, alturas em que ocorre o fenómeno designado por Estupidificacium Maiorum. Trata-se de um estado que reorganiza todas as células estúpidas – e elas são em números estupidamente elevados – e as potencia, chegando, nos picos da crise, a quintuplicar a estupidez previamente existente, sem que o indivíduo portador se aperceba.
Ainda que não seja recomendado, pode estar perto de um indivíduo que padeça de estupidez, tocar-lhe e até, caso seja mesmo necessário, abraçá-lo, sem perigo de contágio.
Desaconselha-se, no entanto, convívio prolongado com indivíduos estúpidos, por várias razões:
a) – Não vai aguentar e pode acabar intencionalmente com a sua vida, o que não é desejável. Não vá por aí.
b) – Não vai aguentar e pode acabar intencionalmente com a vida do estúpido, o que, a não ter a compreensão do tribunal, dá direito a prisão, sem passar pela casa partida e sem receber o devido, e isso – acabar na cadeia por acabar com um estúpido – também é muito estúpido. Evite.
c) – Se a intenção do convívio é mudar o estúpido, informa-se, desde já, que “o estúpido não muda. Nasce, vive e morre estúpido”. Acho até que esta é uma citação da Bíblia (pelo que voltei atrás e coloquei aspas, pois posso quase jurar que é o que diz a Bíblia, senão é a Bíblia é aquele outro livro, como é que se chama… Será “O Senhor dos Anéis”? Bom, é um livro grosso que diz isso). Conclusão: é escusado esforçar-se.
d) –A estupidez é uma força do mal, contra a qual pouco ou nada podemos fazer, exceto, em dias de verão acima dos 40º, e caso esteja de camisa amarela, altura em que pode erguer perante os olhos de um estúpido, um osso do peito de uma galinha do campo. Dizem que resulta. Não exorciza, mas afugenta o estúpido. Ainda assim, questione-se: valerá a(s) pena(s) assassinar um adorável animal de capoeira para afugentar seja o que for?
Nota – Se é um estúpido, não leia este artigo, exceto se estiver disposto a mudar, um pouco que seja, a sua natureza, aquela que, por norma, costuma ignorar. Se não entendeu patavina, lamento informá-lo, mas pode dar-se o caso de ser… Não interessa!
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