Ora, aqui está uma receita que deixa qualquer nutricionista, cardiologista ou mesmo médico de família em bicos de pés. Isto porque apetece desde logo dançar imenso só de pensar que se vai ingerir tamanha quantidade de gorduras saturadas, pois saturam muita gente, como bem se percebe. Fritar entrecosto é básico. Numa frigideira com azeite bem quente, deite o entrecosto temperado até ter a zona do fogão efusiva e estupidamente suja com salpicos de gordura que por lá ficarão até ao fim dos tempos, que a gordura é muito insidiosa. Retire o entrecosto e reserve. Reserve ainda a gordura da fritura. À parte, escalde pão alentejano duro numa taça ou caçarola, ou faça um puré de batata que vai dar ao mesmo. Adicione-lhe a gordura previamente reservada da fritura do entrecosto. Este, já agora, deve ser de porco. Se não o dissemos antes e preparou vaca ou borrego, lamentamos informar que tem de começar de novo, desta feita com carne de porco. Já está? Ok, prossigamos, então. Amasse o pão ou o puré de batata até formar uma bola consistente e molde-a a seu bel-prazer. Há quem seja perito em figuras humanas, em objetos inanimados, mas o mais comum são mesmo os sólidos geométricos: cilindros (o comum rolo), pirâmides (o célebre tudo ao molho), quadrados (há quem tenha formas para isso), ou apenas a esfera (bola simples e nem por isso perfeita, que isto não é uma aula de geometria, ainda que não nos falte o rigor). Decore com gomos de laranja, apenas para disfarçar a litrada de gordura e refastele-se, ou melhor, lambuze-se com este tão encantador repasto. Não se esqueça de ir limpando a gordura que vai escorrendo pelo queixo. Acho que é tudo. Mentira! Tem ainda de se certificar de que tudo, mesmo tudo, é alentejano: o porco, o pão, as batatas… Convém ainda que seja porco de montado e não de agropecuárias que mantêm os animais em jaulas e coisas indignas do género. Se conseguir que seja porco preto, então! Ui, será um pitéu. Caso esteja a utilizar produtos de outra região, temos pena, mas não acabou de fazer esta receita e sim outra. Diga-nos como correu e ainda pode vê-la nestas nossas páginas de não-culinária.
Ingredientes:
– Entrecosto de porco preto de montado
– Pão duro
– Batatas duras (as moles estão estragadas)
– Água a ferver
– Louro ou, na falta deste, moreno
– Tachos com fartura
– Um fígado em bom estado para digerir tudo isto
– Laranjas para disfarçar a ‘gordurana’
Tempo de preparação:
Para que fique mesmo, mesmo bom, dê-lhe todo o tempo do mundo, como diz o poeta, ou quase.
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