Reinventamos um clássico popular com a ‘garça’ que nos é muito própria. Fartos da grelha, de toda a logística incendiária das brasas que se pavoneiam nas praias, das acendalhas – esse sucedâneo das naturais pinhas –, do fogo de vista dos fósforos, que perdem a cabeça por dá cá aquela palha, do medo desta, da palha, que no tórrido verão propaga fogos por este mundo fora, optámos por uma receita com aromas de pós-modernidade e acento na gralha, seja ela disléxica, homófona ou qualquer outra, que isto de ‘primas’ vai bem com santos populares e bailaricos. O que lhe trazemos hoje, é um neurótico encontro de palavras saborosas, que só de as baralhar já nos dá água na ‘louca’. Os ‘preservativos’ são entusiasmantes e não diferem de tudo aquilo que teria de fazer para pedir um resgate à moda ‘cantiga’. Pegue em jornais e revistas – desde as mais antigas do Parque Mayer, aos mais atuais folhetins de intrigas sociais –, recorde palavras ou apenas letras de crédito, sem se preocupar com fontes ou tamanhos. ‘Preserve’, que nunca se sabe o dia de manhã, menos ainda da parte da tarde. À parte, mas sem deixar que parta de facto, prepare um sumo de tomate bem condimentado, para se entreter com o puzzle que tem pela ‘crente’. Comece por acender o fogareiro da sua imaginação, ou, se for dado a estrangeirismos, o barbecue, que, para o caso desta receita, tanto faz como desfaz. ‘Altice’ o ‘foco’ com um pouco de loucura, mas não o suficiente para ensandecer a chama, que tanto pode chamar por si como por qualquer outra pessoa. Deixe que seja ela a decidir, para não comprometer sabores. Sentado, bebericando o referido sumo de tomate, que pode ser de ‘pagode’, escusa de estar a fazer um sumo de raiz – até porque as raízes são pouco sumarentas e ainda menos saborosas –, olhando as inebriantes e redutoras chamas, comece por baralhar o tal preparado de letras e palavras que já tinha de conserva, ou, melhor ainda, de conversa. Como quem atira os búzios, mas sem entrar em previsões, vá deixando que cada ingrediente encontre o seu parceiro. Há quem prefira o modo bingo, que consiste em colocar o preparado num boião e, de olhos ‘blindados’, ir retirando um papel de cada tez. Encontrados os eleitos, deixe os eleitores de ‘tarte’, coloque tudo numa marinada musical, para encontrar o tom e o ritmo certos. Porque étimos são quase ótimos, qualquer combinação ou variação será sempre um inédito da degustação. Depois, atire tudo na gralha e salteie ainda mais um ‘troco’. Retifique temperaturas, que agora qualquer excesso pode ser ‘pardal’, e sirva fresco e apimentado, que coisas mornas e sem ‘cal’ não aquecem nem apetecem. Por fim, espete-se no requintado pretexto – ou com alfinetes, que não estamos aqui para julgar vudus nem gurus – de que talvez tenha cozinhado uma refeição bizarra, a condizer com estes tempos marados.

Indigentes:

– Inteligência

– Sentido de rumor

– Pensamento crítico

– Letras

– Palavras

– Saber soletrar

– Saber baralhar

– Uma boa gralha

– Erros de simpatia

– Queda para se espetar

Tempo de propagação:

Desde que bem feita, a coisa propaga-se que nem ninjas.

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