Um pouco de história. Esta é uma receita que há muito encanta a função pública, bem como pessoas, como eu, que sonham com a possibilidade de ter ADSE. É uma mousse muito delicada, que poderia ser feita em cinco minutos, recorrendo apenas a uma única colher, uma faca e uma tigela, mas que propositadamente, para efeitos de progressão na carreira e de passar o tempo de expediente sem demasiado esforço, se alonga desmesuradamente. A maior delicadeza consiste precisamente no tempo e na perceção que tem de emanar de todo o processo. Há que fazer parecer que é coisa complexa, morosa, exigente, própria de um técnico altamente especializado numa porcariazita qualquer, e alongar os procedimentos da sua execução ao ponto de parecer que se esteve a implantar uma mão e um novo cérebro a um peão atropelado por um veículo longo de dezoito rodados. Não se pode, porém, demorar demasiado, para que os ingredientes, principalmente o leite descondensado – e também a polpa de manga, mas com menos preocupações para esta –, não se deteriorem. Caso isso aconteça, há que assumir tranquilamente o sucedido, dando a entender que a operação é de tal forma delicada e difícil que há X possibilidades em Y de a coisa poder correr para a torta e não para a mousse.
Basicamente é isto, mas pode adaptar e enfeitar e tornar esta receita ainda mais sua. Personalize, mas nunca pessoalize.
Ingredientes:
– Manga de alpaca
– Cara de pau
– Tempo de sobra
– Boa capacidade de medir o tempo e a fúria alheios
– ADSE
– Leite descondensado
Tempo de preparação:
Indeterminado, ou indefinido, ou indiferente, ou mesmo infinito. Escolha uma qualquer. Nenhuma está errada.
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