Élio Lobo não sabia ao que ia. Disso se certificara Rapo, diminutivo de Raposa, miúda esperta e inteligentíssima, e companheira de Lobo nos últimos três anos. Tratara de tudo com o maior secretismo e com a ajuda sigilosa de muito pouca gente, a fim de garantir que não houvesse indiscrições fatais. Élio aceitara o desafio com expectativa, e o total desconhecimento relativamente a destino ou qualquer outra informação sobre o que os esperaria no final da viagem, que já ia longa, tinha cabimento no facto de celebrar um significativo aniversário, um início de nova década de vida, e de bem conhecer – e não menos apreciar – as idiossincrasias de Rapo, sempre cheia de energia e ideias novas com que gostava de o mimar. Élio Lobo sabia apenas que nada sabia e nada poderia saber. Aceitava que nem sequer poderia imaginar. Rapo era demasiado criativa e imprevisível para arriscar um lugar, uma atividade, uma aproximação ou suposição sequer. Achava apenas, mas também isso sem certezas, de que não iriam para sul, mas mesmo isso era pura intuição, nada de substantivo ou concreto. Talvez fosse a sua vontade de rumar a norte, que orientava essa suposição. Nem uma coisa nem outra, como percebeu logo que tomaram um rumo, uma direção. Seguiam outro ponto cardeal. Rapo 1 – Lobo 0.

Pelo caminho tentou adivinhar para que cidade ou localidade se dirigiam. Qual o destino eleito, avaliando possíveis novos hotéis, ou algum recém-inaugurado parque natural ou de atividades, um passadiço, um desporto, um festival, um concerto, uma exposição… Distraía-se a manter vivo esse jogo mental, o de tentar perceber, mesmo sabendo que o mais certo seria nem sequer ficar perto. Tão absorvido estava a olhar a copa das árvores, a contar os traços da estrada que nem percebeu que tinham chegado. Pela janela do carro, um ser do outro mundo, meio hermafrodita, meio hippie, recebia-os num misto de registos que ia de velhos companheiros de guerra a apaixonados amantes de todos os dias. Fosse qual fosse a primeira perceção, o tom era de absoluta intimidade.

– Olaaaaaá! Meus queridos. Fizeram boa viagem? Preparados para este mega exclusivo e maraaavilhoso fim de semana? Já têm fome? Querem conhecer já o nosso welcoming committee no supergiro lounge, ou preferem ir diretos aos vossos aposentos para a primeira relação sexual do dia? Preparei-vos algumas surpresas, prontos para elas?….

Lobo, atordoado e de boca aberta, e Rapo divertida, mas alucinada com aquela ave rara, sentiam-se esmagados com tantas perguntas recheadas de informação, indiscrição e à-vontade, às quais não conseguiam dar resposta, nem tampouco acompanhar. Com as suas longas tranças bamboleantes a entrarem pela janela aberta, os olhos do anfitrião rodavam de um para outro, como se aguardasse algo, ou tentasse perceber quem iria responder primeiro, ou apenas estava muito, muito charrado, como mais tarde concluiriam Rapo e Lobo.

– Credo, que vem aí mais gente e há toda uma aula de yoga para preparar. Se calhar tenho de ir, mas quero muito mostrar-lhes tudo e…

Rapo aproveitou a deixa para tranquilizar aquela frenética libélula de corpo multicolor de que não necessitaria de bater mais as suas asas em vão naquele carro, que estava tudo bem, que poderia ir acolher efusivamente os próximos hóspedes e que dariam com a receção…

– Hã, hã, hã, haan. Welcoming committe. Não é receção, ok?

Recearam ter melindrado a sensível criatura, mas logo essa possibilidade foi descartada.

– Ooh! Vocês são tão liiindos! Gosto muito de vocês. Vou só receber aquele carro amarelo, que tem gente que me parece muito aborrecida, e já vou ter convosco.

Entre o confuso, o divertido e o muito assustado, Rapo e Lobo seguiram em frente.

– Falamos sobre isto que acaba de acontecer ou aguardamos um pouco?

Rapo, escolheu a segunda hipótese, já que não sabia o que dizer, nem como qualificar tudo aquilo. Pensava apenas que ainda era sexta-feira e que os aguardava um fim de semana ‘daquilo’. Quando se deixou seduzir pela ideia de uns dias de romance em plena natura, em atrativo ambiente glamping, não somou loucuras humanas e sociais à experiência: apenas tempo descontraído, ar livre, sexo no campo e na praia, e uma experiência que Lobo guardasse, para sempre, no seu álbum de memórias. Aquilo era um inesperado extra. Muito animado e divertido, é certo, mas obviamente demasiado intenso e esmagador. Tinha de tratar já de falar abertamente com aquela criatura etérea e explicar-lhe que não queriam ser importunados, nem queriam penduras nos próximos dias. Procuravam paz, não monólogos histriónicos de um ser com quem não tinham intimidade. Por outro lado, era uma experiência. Não. Rapo não queria ir por aí. Era o aniversário de Lobo e desejava estar com ele a sós, sem interrupções nem distrações. Apenas as dois, a namorar, a apanhar sol e a relaxar do stress que tinham deixado para trás e ao qual regressariam não tardava assim tanto. Tinha de pôr o outro no seu lugar.

Já estacionados, e deslumbrados com a beleza e bom gosto do local, onde cada tenda se ocultava num círculo de vegetação, cada uma com mini piscina privada ou banheira exterior para total privacidade, dirigiram-se para o ‘welcome committe’, apenas um simples, mas elegante telheiro com teto de colmo e um pequeno lounge a céu aberto com apetecíveis bebidas frescas a aguardar cada um deles, rodeado de fitas artesanais feitas de vidros da praia que cumpriam as vezes de parede e iam refletindo mágicos cores pelo ar. Aquilo agradava-lhes. Sorriram um para o outro, mas não por muito tempo.

– Lindões, já cá estou à vossa inteira disposição para vos contar tudo.

Incrédulos, pela rapidez com que o fulano que tinham deixado para trás os tinha ultrapassado e já lá estava para os atender-barra-maçar com o seu discurso ininterrupto, não conseguiram falar, nem isso lhes foi exigido.

– O meu nome é Oli e vocês estão a dar entrada no meu mundo privado, todo ele pensado e concebido, por este vosso amigo. Aqui, não quero preocupações, problemas ou telemóveis. Por falar nisso, vão passado os vossos, para que apenas oiçamos o som da Natureza e o canto das aves. Mas não de todas as aves, pois temos gatos e eles são muito marotos com a sua dieta de carne crua. Enfim, são as leis do universo. Sejam bem-vindos ao nosso acampamento de bem-estar. Vou levar as vossas bagagens para a melhor tenda do mundo. O banho é no exterior e para o resto há soluções ancestrais, se é que me entendem. Baldinhos de serradura servem para tapar aquilo que vocês sabem e da limpeza do buraco no chão, trataremos nós diariamente. Não comecem já a torcer o nariz e saibam que isto é a nova Ibiza, meus queridos.

Oli manteve-se a falar sem paragens até que chegaram à tenda, conduzidos por um buggy que parecia todo ele feito de canas de bambu. Uma viagem que lhes permitiu despachar uns mojitos bem aviados de álcool e no decurso da qual ficaram a saber tudo sobre as refeições, horários, aulas de yoga, observação de aves, passeios a cavalo pela praia e tudo acompanhado de uma enorme quantidade de informação extra e faits divers.

– Preferindo, podem pagar uma fortuna nos restaurantes da zona, mas devem saber que são frequentados apenas por velhos, nacionais e estrangeiros. Gente em final de linha, mas com dinheiro, o que inflaciona todos os preços. Não querendo comer as nossas refeições ultra-saudáveis e muito económicas, recomendo que vão à praça, na vila, e comprem tudo fresco. O peixe podem comprá-lo diretamente na praia, aos pescadores. Depois, podemos cozinhar em conjunto na minha grande cozinha, com forno de lenha e aproveitamos para nos conhecermos muito melhor. O que me dizem. É giro, não é? Acima de tudo quero que fiquem à vontade, se sintam em casa. Ah, e podem fazer nudismo. Incentivamos comportamentos despojados e libertadores em nossa casa.

Aquilo não acabava mais. Quanto mais tempo passava e mais informação ouviam, mais cansados e incapazes de falar ou reagir se sentiam. Sentiam uma espécie de hipnose e, lá no fundo, cada um deles, Rapo e Lobo, receavam ter caído num qualquer feitiço do qual não conseguissem acordar jamais. Era como se o aborrecimento os embalasse. Os amordaçasse. Quase sentiam que aquilo lhes fazia bem. Era a mesma sensação de quando, cheios de pressa, aguardamos que um dedicado funcionário acabe um embrulho, ou dobre com zelo e preceitos obsessivo-compulsivos aquelas quinze peças de roupa que elegemos em cinco minutos, mas que nos custarão duas horas seguramente. Não obstante o sangue há muito ter entrado em ebulição, algo se acalma e amorna cá dentro, impedindo-nos de gritar ou apenas pedir mais despacho ao empregado. Ficamos presos voluntariamente daqueles gestos, daquele enlevo. Se isso não é bruxaria, não sabiam o que seria.

– Agora vou esperar por vocês na aula de yoga. Vamos lá estar todos, pelo que é uma oportunidade de verem todos os rostos e até perceber se alguém é do vosso agrado, caso sejam swingers. Quanto ao casal que vinha atrás de vocês, já os despachei. Percebi de imediato que não tinham boa onda, nem se enquadravam com a gente gira e divertida que cá temos por estes dias. Há que saber gerir todas as emoções e temperamentos, se queremos um negócio de sucesso, porque isso só depende de hóspedes feliiiiizes!

Aquilo era demais. Colados ao chão e em silêncio, completamente esmagados por aquele bombardeamento verbal, num timbre desarmante, Rapo e Lobo não entendiam como é que o Oli podia gostar tanto deles se nem sequer conseguiam falar? Seria o seu silêncio que o encantava, pois permitia-lhe monologar para todos o sempre? E se acabassem sem conseguir sair dali e ficassem reféns daquele hipnotismo para sempre? Só esse pensamento fez com que Rapo conseguisse articular uma frase:

– Adoramos estar aqui e ter o enorme prazer de o conhecer, mas agora precisamos de três horas para descansar. Não dormimos esta noite e estamos estafados. Por favor, deixe-nos tranquilos. Se precisarmos de alguma coisa, avisamo-lo na hora.

– Você é especial. Já gostava de si, mas agora… Um corpo deslumbrante, um marido que apetece comer, uma voz sedutora e ainda é direta. A-MO-A! Ainda vou conseguir que fique a trabalhar para mim.

Já sozinhos, Rapo e Lobo, evitaram olhar-se. Estavam genuinamente estoirados após aquele imprevisível interlúdio, que colocava em suspenso o início do fim de semana tranquilo que Rapo tinha imaginado e que agora ambos desejavam a todo o custo. E iria custar muito, como se percebia. Já nem estavam interessados em comentar Oli e as suas idiossincrasias, apenas percebiam a urgência de gizar um plano eficaz que o mantivesse afastado deles durante todo o fim de semana. Yoga, sim, era menos uma hora sem ele. Praça, sim, bem como confecionar refeições ligeiras e correr a comê-las na tenda, em vez de se reunirem na sala comum, onde ele estaria precisamente a fazer… sala com todos, o que deveria ser ainda mais sufocante. Quanto maior a plateia, maior o seu entusiasmo, acreditavam Rapo e Lobo. Agendaram ainda pequenos-almoços na tenda, um passeio a cavalo, um piquenique na serra e uma subida de balão, o que era feito através do preenchimento de formulários de diferentes cores que se deixavam na sua caixa de correio que ladeava a entrada do recinto de acesso a cada uma das tendas e que era verificada no final de cada dia. Um pouco mais calmos, com todas estas diligências cumpridas, respiraram fundo e até tiveram tempo e prazer em apreciar a elegante e sofisticada decoração da tenda, a paisagem circundante, os aromas a alfazema e a flor de laranjeira e, depois de tudo isso, arriscaram mesmo falar de Oli.

– O homem é gay. Viste como olhava para mim? E aquela história de me querer comer?

– Ahahaha. Não é. É apenas um excêntrico, um louco, mas muito, muito chato. Também não interessa.

– É chato e é gay. E que conversa foi aquela do swing? E do nudismo? Este local é de loucos. Se ele vier com avanços leva logo um soquete.

Rapo começava a divertir-se. Entre pedaços de coisas que Oli dissera e só agora realmente ouvia e os receios de ser sexualmente assediado de Lobo, a coisa começava a compor-se. Além disso, o local era lindo e a tenda muito sedutora. A bem da verdade, o próprio dono não era de se deitar fora, apesar de perder parte do encanto quando abria a boca, o que era sempre, infelizmente. Deitaram-se sobre a gigantesca cama e adormeceram, enquanto falavam dos planos para o fim de semana, sem saberem ainda que o registo no qual tinham dado entrada não se vestia de comédia ligeira, mas de verdadeiro drama.

– Bom diiiiaaaa! Casalzinho lindo!!!! Está na hora de acordaaaar. Trouxe comidinha. Como foram os únicos a pedir o pequeno-almoço na cama, aqui estou eu e a Rosy, minha amante e assistente, para que não fiquem sozinhos. Estão em clima de romance, não é? Mas também é importante ver outras pessoas, conversar, ficar a conhecer o que se passa lá fora…

Rapo e Lobo, acabados de chegar da casa de banho exterior, onde se tem uma experiência que tomba muitos pontos na direção da humilhação, com paredes de canas por onde se veem passar outros hóspedes e privacidade zero, não queriam acreditar. O homem estava em todo o lado. Enquanto Lobo cimentava teorias rocambolescas sobre a orientação sexual do homem e o seu desequilíbrio mental, Rapo começava a sentir enorme curiosidade por aquele espécime, de todos os outros tão distinto. Manteve a mente aberta, sem juízos, sem discriminação, tentando apenas perceber como era aquele homem que se dedicava com tal empenho aos outros, com uma intensidade e abnegação que não lhe permitiam perceber como era inconveniente. Seria assim tão ingénuo? Estaria realmente interessado num deles? E que mulher-companheira era Rosy para não se incomodar com aquilo? Seriam puramente hippies? Loucos? Desequilibrados? Teriam fugido de um departamento psiquiátrico sem terminarem o tratamento? Tomariam psicotrópicos? Estariam a desenvolver uma experiência social ou psicológica?

Lobo arrasta Rapo para fora da tenda e explode:

– Sei bem como é esta gente. São promíscuos. Por baixo daqueles cafetãs estão completamente nus e ele deitou-se tão perto de mim, que lhe sentia o corpo todo. Temos de os meter na ordem.

– Calma – aconselhou Rapo, que entrara em modo relax –, vamos com calma. O melhor é entrarmos um pouco na onda e conhecê-los melhor. Se for apenas uma máscara, não a vai aguentar por muito tempo, se for genuíno, será uma experiência irrepetível, pois ele é uma personagem inédita. Aceita o pacote todo como uma grande surpresa. Vamos ser espectadores e apreciar o número. Isto fica tão longe e já que aqui estamos, vamos lá aproveitar. O que me dizes?

Lobo não tinha a mente tão aberta, nem estava assim tão disposto a assistir a espetáculos realistas interpretados por gente genuína. Apreciava um bom absurdo nas páginas de um livro, na tela de um quadro, na película de um filme. Assim, a três dimensões e absolutamente real, sentia-se intimidado. Receava, acima de tudo, ser drogado e violado por Oli, mas esse receio não o expressou de viva voz, com receio de que Rapo o achasse ridículo e paranoico. Aguentar-se-ia à bronca. Era ele o homem do casal e seria ele o protetor de ambos. Mentalmente tomou apenas nota para que não bebesse nada que Oli lhe servisse. Só por precaução.

Mas isso foi impossível de manter. Porque Oli era o dono, o porteiro, o paquete, o chef, o tratador de cavalos, o técnico do balão, o professor de yoga, o massagista, o conselheiro sexual… Oli era tudo ali dentro, incluindo, como o próprio disse sem que lho perguntassem, aliás, jamais lhes ocorreria tal possibilidade de questão, o gigolo sempre que havia desentendimentos conjugais, mas não se queria desperdiçar a viagem a tal paraíso.

– O sucesso deste lugar tem tudo a ver com a naturalidade com que Oli nos impõe a sua loucura, a sua aberração. Ele normaliza a estranheza. Isso, juntamente com o encanto da paisagem, com a distância a que este sítio deixa o mundo lá fora, com um certo arrebatamento pela beleza de Oli e até de Rosy… Não sei. Há aqui algo de muito especial. Talvez devêssemos aproveitar.

Lobo recusava-se a aceitar o devaneio em que até Rapo já tinha caído. Também não queria dar parte fraca, além de que teria de estar presente e proteger Rapo de males piores do que sucumbir à conversa infinita do homem. Cedeu apenas a um cocktail ao pôr do sol. O espetáculo era deveras impressionante, uma verdadeira experiência sensorial, e já que era para ficar, que não fosse em secura total. Começava ele próprio a questionar as suas certezas. Talvez o homem fosse apenas um espírito aberto… Nã. Tinha absoluta confiança no seu faro apurado. Ali havia coisa e da grossa. Havia que manter os olhos abertos e proteger a retaguarda. Redobraria cautelas. Colocaria malas e outras peças de mobiliário à entrada da tenda e no acesso à cama, para que qualquer intruso acabasse por fazer barulho, caso se aventurasse por ali dentro. Levaria um lençol da cama quando fosse à casa de banho e com ele se taparia. Dormiria em modo de vigília e treinaria formas de interromper Oli e de o pôr a andar sempre que necessário. As suas desconfianças eram ainda mais agudas quanto mais lassas estavam as defesas de Rapo.

O sol estava prestes a desaparecer, mas não ainda a totalidade da sua inebriante luz laranja, quando Oli, respondendo a Lobo sobre como conseguia ser tudo e todos e estar em todo o lado sem que alguma coisa falhasse, diz:

– Ah, é das autoestradas de medicação e cocaína que tomo. Graças a Deus que existem drogas para tudo, caso contrário, o meu negócio não seria tão lucrativo.

Hoje, ao recordar aquele fim de semana, Lobo percebe que não se lembra de nada mais depois daquele por do sol. O que é curioso, já que Rapo diz que jamais esquecerá aquele fim de semana, um dos mais incríveis da sua vida, nem o passeio de balão, nem a receita de caranguejo com condimentos de África que Oli preparou exclusivamente para eles, a massagem de Rosy e menos ainda a chuva de estrelas com que foram brindados nesse fim de semana, onde houve direito a um prato de fruta onde Oli conseguiu equilibrar cada peça de forma a que a fruteira resultasse no perfil de um bolo de vários andares, com velas e tudo. Algumas fotos atestam parte de tudo isto, pelo que Lobo não pode verdadeiramente duvidar, mas acredita que Rapo deve ter fumado algo por acaso e embarcado em memórias e sensações que a ele estavam interditas, já que era o homem de vigia. Curiosamente, agora que pensa nisso, percebe que desde então tem repetidamente o mesmo sonho, no qual vê Rapo a ter relações com um casal de corpos atléticos, enquanto ele apenas observa sem se conseguir mexer ou falar.

– Ainda bem que me mantive vigilante, caso contrário, teria sido mesmo isso a acontecer, eventualmente comigo no lugar da Rapo, que aquele gajo não tirava os olhos de cima de mim. O nosso subconsciente é mesmo tramado.

Moral da história:

Sempre que recear ser drogado e violado, é porque está na hora de partir. Saia imediatamente. Não olhe para trás. Exceto se gostar de enfrentar os seus medos, mas, nesse caso, depois não se faça de vítima, ‘tá?!

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