Na rádio, a voz de Vítor Espadinha, declamando estrofes numa canção dos Ornatos. Não permitiu que o distraísse. Faltava rodar a chave cinco vezes na fechadura da porta, perfazendo 15, seu número de eleição. Não que tivesse saído, longe disso, que o tempo era de clausura e bem que precisava de sossego, que o esforço de sair de casa era cada vez mais penoso. Queria apenas confirmar se, de facto, estaria corretamente trancado em casa. Mentalmente contava, quatro, três… Não estava seguro de que tivesse cumprido a contagem sem enganos. Recomeçou. Tentou abstrair-se da canção, do refrão, do Espadinha e só se permitiu ouvir a contagem, agora em voz alta, para evitar enganos. Um, dois, três, quatro, cinco, seis, sete, oito, nove, dez, onze, doze, treze, catorze, quinze. Pronto. Porta trancada quinze vezes, o que vezes três, que era o número de ferrolhos a trancar de cada vez, dava um total de 45 movimentos feitos e desfeitos, ou seja 90 no total. Cerca de um minuto. Desta vez não teve dúvidas. Estava trancado vezes 15 vezes. Quinze, sempre 15 vezes. Gostava do número, além de que era mais do que uma dezena e do que uma dúzia de vezes, o que somava garantias aos seus temores. Além disso, gostava de números ímpares e aceitava o 15 com a mesma plenitude com que os pitagóricos entendem o três. E, bem vistas as coisas, três vezes cinco dá quinze. Repete-se o cinco e a perfeição. Sim, quinze era bom. Era certo e seguro.

Daria início à sua higiene matinal. Debatia-se ainda com uma dúvida metodológica lancinante, que o impedia de partir diretamente para os procedimentos. Lavar cada parte do corpo quinze vezes, ou a totalidade do corpo o mesmo número de vezes? Entendia que o princípio da linha de montagem pouparia tempo e recursos. Afinal, dedicar-se aos pés agilizaria o processo de lavagem dessa parte do corpo, o que se verificaria igualmete proveitoso para cada secção: pés, pernas, baixo ventre, tronco, braços e cabeça. Por outro lado, deveria antes começar pela cabeça, por razões de contaminação cruzada óbvia. Não podia começar por baixo, quando a água suja da cabeça acabaria por conspurcar tudo de novo. Nunca ficava plenamente convencido de qual o melhor método, pelo que, apesar das dúvidas lancinantes, acabava sempre por cumprir o método de sempre: lavar o corpo todo, começando pela cabeça e repetir o processo as mágicas 15 vezes. Estava frio. Desligar a água entre lavagens era o ecologicamente acertado, mas como demorava 15 minutos em cada lavagem, cronometrados ao milésimo de segundo, era demasiado tempo para ter o corpo húmido exposto ao ar frio da madrugada. Três horas e quarenta e cinco minutos de exposição indevida a diferentes temperaturas podiam muito facilmente desencadear uma indesejada pneumonia, e só de pensar nisso em tempo de pandemia…

Não. Lamentava muito, entendia as necessidades do planeta, mas não podia descurar a sua saúde física e mental. A água quente ficaria aberta e o aquecedor ligado. O pior eram os vapores, que implicavam que depois de cada banho, tivesse de passar criteriosamente lixívia nos cantos do teto, muito fustigados com a humidade. Um processo delicado, que implicada luvas, máscara e uma escova de dentes, para garantir que bactéria alguma se atreveria a manter-se viva, principalmente na banheira, azulejos, torneiras… Procedimentos diários que lhe permitiam prescindir de empregadas de limpeza, as quais não passavam de agentes de transmissão de doenças várias, já que traziam da rua e das restantes casas onde trabalhavam microrganismos patogénicos que o levavam a limpar a casa de uma ponta à outra logo que a empregada saía. Não valia o esforço e gasto financeiro. Se era para lavar duas vezes, ou quinze, como apreciava, mais valia que o fizesse ele, sempre podia garantir que tudo ficava na perfeição ou quase, que isto de seres invisíveis, nunca se pode avançar com garantias.

De frente para o roupeiro, tentava decidir-se pelo kit de conforto do dia. Em tempo de teletrabalho, bastava uma roupa decente na parte superior e umas quentes calças de fato de treino e bons pares de meias, para se manter quente e confortável. Tirou umas calças, mas logo se arrependeu, o que implicou que tivesse de as voltar a dobrar quinze metódicas vezes, para no final perceber que já as deveria ter sujado, pelo que mais valia que fosse de imediato para o cesto da roupa suja. Por sorte, levantava-se religiosamente às quatro da manhã, todos os dias, pois não suportava sentir-se sob stress. Olhou para o roupeiro de novo, percebendo que o mais acertado seria eleger primeiro a parte de cima, camisa, pullover e casaco de malha, que a primavera ia mais fria do que as temperaturas de que se lembrava do inverno. Elegeu primeiro em pensamento, para não tocar em peças de roupa imaculadamente lavadas, passadas e dobradas, que acabassem por ter o mesmo destino das calças de fato de treino. Começou a transpirar. Sentia-se um pouco nervoso, pois se aquilo continuasse, teria de voltar para o banho e subsequente lavagem do WC. Por sorte, era previdente. Sabia antecipar cenários dramáticos. Mais calmo, vestiu a roupa que havia programado.

Sentia fome. Pudera, já passava das 8h30. Tinha de se despachar e isso enervou-o. Voltou a sentar-se um pouco. Na cozinha, o ritual começava com a lavagem das mãos e, agora também, a sua desinfeção, que um Coronavírus não deve ser subvalorizado. Pensar nisso, acelerou-lhe o batimento cardíaco, mas estava ainda na 10.ª passagem de álcool-gel nas mãos. Tinha de se acalmar. De mãos desinfetadas, colocou umas luvas cirúrgicas para dar início à preparação da primeira refeição do dia. Felizmente não lhe faltava equipamento de proteção individual. Só para se reconfortar, abriu o roupeiro do corredor, um hercúleo armário que ocupava todo o gigantesco pé direito da casa. Do chão ao teto, organizado por tipo – máscaras, luvas, embalagens de álcool, álcool-gel, desinfetantes hospitalares para as mãos que comprava online e viseiras – e por cores –, tons pastel em cima e cores mais fortes em baixo, que obedeciam a um harmonioso degradé. Abriu ainda as gavetas, de onde saía um reconfortante cheiro a limpeza proveniente das centenas de barras de sabão azul e branco, único do género em que confiava a sua higienização. Inquietou-se. Uma das gavetas tinha menos do que 75% do stock. Nunca permitia mais do que 25% de falta nos produtos de higiene. Sentiu-se frágil. Enervado. Precisava de tomar o pequeno-almoço, já se sentia a desfalecer, mas ter sabão azul e branco em falta não lhe permitiria fazer nada mais enquanto não repusesse o stock a 100%.

 

A drogaria do Sr. Gaspar estava fechada desde antes ainda do início do estado de emergência, pelo que a ida às compras implicaria sair de casa com um par de luvas, máscara e viseira, apanhar um transporte, que implicaria novo kit de proteção individual e correspondente desinfeção de mãos, e ir para uma inquietante fila de supermercado, com renovado equipamento. Voltar a cumprir todos os procedimentos na viagem de regresso, com o acréscimo de que teria de deixar as compras à porta de casa, juntamente com os sapatos, lavar tudo com lixívia, levar tudo para dentro, onde seriam lavados com detergente e posteriormente desinfetados. Deixar atuar o produto, guardar tudo e ir de novo para o banho. Colocar a roupa imediatamente a lavar sem que tocasse na restante roupa suja não contaminada com partículas do mundo exterior. Só depois poderia tomar o pequeno-almoço. Reorganizou o esquema: deveria tomar banho antes de arrumar as compras. Assim, quando guardasse o sabão já estaria tudo higienizado, ele incluído. Sim, era a melhor opção. A única, avaliando bem a situação. Talvez, pelo caminho, conseguisse comer qualquer coisa fora. Sabia bem que seria incapaz de tal coisa, pois se isso não acontecia há mais de uma década, não seria agora, em época de pandemia que pararia para comer porcarias imundas num balcão mal desinfetado e servido por mãos com luvas que duravam todo o santo dia nas mesmas mãos e a cumprir inúmeras rotinas porcas.

By Rui Veiga

O pior de tudo, cruzar-se-ia com gente que, provavelmente, nunca tinha cumprido o resguardo obrigatório da exigida quarentena sanitária. Só a palavra, sanitária, o compelia a lavar de novo as mãos quinze vezes, mais quinze desinfeções com álcool-gel. Oscilava entre o pânico de não ter uma tranquilizante quantidade de sabão azul e branco e o pânico de sair à rua, quando toda a gente poderia estar, e seguramente estaria já, infetada com o novo coronavírus. Todos tinham Covid-19. Tão certo como três vezes cinco serem 15. Tomou um dos seus SOS. Felizmente, desses, tinha três paredes cheias, na biblioteca, onde teve de substituir os livros por caixas de medicação, organizada por datas de validade, revistas amiúde. Não apenas era uma forma inteligente e visível de organizar os medicamentos e de ter os stocks permanentemente controlados – para que não acontecesse o drama que vivia agora com as barras de sabão –, como tinha diminuído as suas alergias ao papel, já que era mais tolerável e tranquilizador o cheiro do papelão das caixas dos remédios. Além de que há uma inexplicável dose calmante na simples imagem de uma sala cheia de medicação, com aquele reconfortante cheiro a farmácia.

Ora bem, sair à rua. Sair à rua. Sair à rua. Era mais do que óbvio que já não poderia trabalhar nesse dia. Não sobraria tempo para tal. Vestiu um blazer. Calçou-se. Colocou dois pares de luvas, duas máscaras, duas viseiras. Em cada bolso do casaco um frasco de meio litro de desinfetante. Só esperava que fosse suficiente, mas a falta de bolsos com capacidade para maiores volumes assim o determinava. Numa pequena bolsa de cintura, para facilitar o acesso, dez pares de luvas e outras tantas máscaras, com diferentes níveis de proteção. Presas numa presilha das calças, mais duas viseiras num saco plástico acabado de ser desinfetado. Abriu a porta, quinze vezes, ou seja, fechou-a outras tantas. Do lado de fora, repetiu todo o processo. Desceu pela escada, que elevadores são, por estes dias bizarros, locais interditos, antros de contaminação, onde apenas indivíduos com propensão para comportamentos de risco entram. Ainda que se tratando de um 15.º andar, o exercício para as suas pernas mirradas, era preferível à ideia de tocar onde quer que fosse dentro de um dos elevadores de toda aquela gente porca. Ele bem os via, de roupão e cabelos oleosos às janelas, enquanto fumavam, de unhas compridas e sebosas. Não. Não era para ele. Nem pensar.

No átrio do prédio, onde a sua caixa de correio já bolsava envelopes para o chão – mas claro que não se toca em papel, menos ainda vindo de fora –, tirou um pauzinho do chinês da bolsa de cintura e acionou o trinco da porta. Abriu-a habilmente com o pé e saiu a correr, para que esta não lhe tocasse fosse onde fosse. Deixou o pauzinho do chinês no vidrão, único que tinha a boca aberta, que a reciclagem só faz sentido se nos mantivermos vivos, ainda que aquele gesto muito lhe custasse. Foi a pensar nele todo o caminho até à paragem. Uma vez no autocarro, o desafio era de tal forma brutal que logo esqueceu os ecopontos. Borrifou cada pedaço de chão antes de o pisar, com uma solução com lixívia, que ia intoxicando o ar, mas antes isso do que o vírus na sola dos sapatos, aliás, na sola dos pezinhos de plástico com que os protegia sempre que se via forçado a sair à rua. Tinha de ter cuidado extra para não escorregar. Cair ali, ou em qualquer espaço público, escada do prédio incluída, implicaria uma ida imediata às urgências e entrar num hospital era coisa para lhe provocar um colapso antes mesmo de lá chegar. Cautela, muita cautela, repetiu para si quinze vezes. Chegado a um local amplo, muito embora viajasse apenas com o condutor, borrifou o varão antes de nele se segurar, bem como o botão antes de carregar a anunciar a sua paragem.

À porta do supermercado, a fila era um bicho disforme, com mais pés que a centopeia e mais corpos imundos do que a Costa de Caparica em dia de 40 º sob telha. A tal ponto desanimadora que teve de dizer um dos seus mantras quinze vezes. “O mal anda à solta, mata antes que te mate.” De repente, os mantras são forças poderosas, as pessoas, uma a uma, começaram a deixá-lo passar à frente. Em menos de quinze minutos estava dentro do supermercado, a deliciar-se com as suas barras de sabão. Ora, para manter o stock completo, o que implicava 200 unidades daquele milagre da potassa, e como estava abaixo dos 75%, isso implicaria a compra de 50 barras, mais 15, só para se sentir um pouco mais seguro. Com 65 embalagens de sabão no carro, entendeu acrescentar mais 10. Ficaria não apenas com mais sabão de reserva, como com um número formado por dois dígitos ímpares, os seus preferidos. Com um pano de microfibra – o mais indicado quando se utilizam desinfetantes –, que trazia na sua bolsa de cintura e que cuidadosamente embebia de lixívia, ia limpando, um a um, todos os itens, antes de os colocar na passadeira, a qual exigiu ser ele próprio a limpar.

Concluída a passagem, voltou a colocar tudo no carro de compras, dentro de sacos comprados e higienizados no local, com um borrifador de lixívia que pediu à funcionária. Era um supermercado maravilhoso. Ninguém o questionava. A pandemia trazia ao de cima o melhor das pessoas. Ele próprio, apenas estava a desinfetar as coisas duas vezes, ao invés das necessárias 15, mas mais valia ser meticuloso à entrada de casa do que ali. Encheu quase dois sacos, apenas o suficiente para os conseguir carregar sem que lhe magoassem as canelas. À saída do supermercado, deitou fora o cartão de crédito, o banco teria de lhe arranjar outro, que o plástico, já se sabe, era um material descartável. Dizem que o vírus vive neles dias a fio e bem de saúde. A banca que desculpe, mas não vamos facilitar. A viagem de autocarro foi penosa e aflitiva. Por conta dos dois sacos, não pôde desinfetar o chão que ia pisando, nem se pôde segurar, já que não podia deixar que os sacos das compras roçassem, um pontinho que fosse, do veículo público. Aos tropeços e enojado com tudo, tranquilizava-o o facto de ter trocado de pezinhos de plástico, de luvas, máscaras e viseiras e de ter passado álcool gel em toda a sua pele exposta. Menos mal.

À porta do prédio a situação agravou-se. Não colocaria os sacos no chão, pelo que não poderia ser ele a abrir a porta. Tinha de tocar a uma campainha para que lhe abrissem a porta. O bom, nisto tudo, é que quase todos estavam em casa, ainda que acreditasse que nem todos estavam nas respetivas. Observações furtuitas tinham revelado vizinhos que quarentavam em conjunto. Um nojo. Copular em época de virose mundial. Irresponsáveis. Porcos. De volta à campainha. Ainda tinha na bolsa de cintura o par do pauzinho do chinês, com o qual planeava carregar num dos botões. Tentou agarrar ambos os sacos numa única mão. Custava, mas era possível. A meio da operação, a porta abre-se. Um esfuziante olá e dois cães eufóricos. Não quis perceber o resto. Agora, além dos vírus de todos os seres vivos com quem se tinha cruzado, ainda pelos de cão. Inferno de prédio. Percebeu como a ideia reconfortante de carregar dois sacos cheios de potassa aliviava o stress que toda a imundice lhe costumava suscitar.

 

Bastante preocupado com a existência de germes nas escadas, que agora subia sem a necessária desinfeção com cloro puro, ia já planeando a sequência a cumprir logo que chegasse à porta de casa. Não pisaria o amplo tapete. Descalçar-se-ia antes sequer de o pisar. Colocaria os pés e pousaria os sacos sobre ele. Recolheria os pés de plástico e retiraria as luvas exteriores. Colocá-los-ia num dos sacos do lixo que levava na sua bolsa de cintura e fechá-lo-ia com cautelas. Abriria a porta quinze vezes. Entraria descalço. Deixaria tudo o resto à porta de casa. Fecharia a porta quinze vezes. Despiria toda a roupa que levava e colocaria a máquina a lavar tudo imediatamente a 90º. Entraria no banho. Lavaria a casa de banho de seguida, com o maior rigor possível, afinal, tinha estado completamente exposto ao vírus e muitas outras famílias de germes e bactérias, que o planeta é deles, desses micro seres. Escolheria, depois, nova indumentária. Voltaria a abrir a porta quinze vezes, munido já com um balde generoso de água a ferver e lixívia suficiente para lavar um hipopótamo, incluindo sob as dobras e refegos.

Com dois pares de luvas calçados, lavaria as barras de sabão, uma a uma. Lavaria os sacos, que ficariam a secar no patamar. Lavaria os sapatos, que também por ali ficariam até estarem secos e após uma segura quarentena podológica, voltariam o lar. Era o único inquilino daquele piso que era o último, pelo que ninguém ali ia, se bem que havia um louco que por vezes fazia o exercício físico subindo e descendo as escadas. Nunca se atreveu a ir até ali, pelo que achava, para já, que não corria perigo. Senão, deitaria os sapatos fora, também não seria por aí. Mas saber que tinha todo aquele patamar livre de contaminações exteriores, razão pela qual nada mandava vir pela internet, para que ninguém pisasse aquele chão sagrado, era reconfortante e um seguro de vida de que não abdicava. Voltando ao plano, entraria em casa e rodaria a chave quinze vezes. Deitaria a água fora e o pano de limpeza também, depois de hermeticamente o isolar num saco de lixo bem selado. Finalmente, poderia dar início ao seu tão desejado pequeno-almoço, mas não sem antes desinfetar as mãos e as bancadas 15 vezes, afinal, tinha-se exposto escandalosamente ao mundo exterior.

Enfrentava já a porta de casa. Colocou os sacos sobre o tapete, retirou os pés de plástico que forravam os sapatos e colocou-os num saco de lixo. Retirou os sapatos e saltou para o tapete. Abriu a porta após rodar a chave duas vezes quinze vezes na fechadura. Entrou em casa. Fechou a porta cumprindo o mesmo ritual. Dirigiu-se à sala das máquinas e despejou toda a roupa para dentro do tambor da máquina de lavar roupa, a qual se preparava para programar com um ciclo à prova de germes. Nisto, o seu olhar clínico repara num pedaço das calças que acabava de despir em que detetou uma bola de pelos, de cão, provavelmente – recordou-se de imediato dos pulguentos com quem acabava de se cruzar… Pulguentos. A palavra ressoava no seu cérebro como chuva grossa em chapa de zinco. Bolas, não tinha desparasitante!!!! Tinha de voltar a sair e ir à farmácia. Urgentemente!

 

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