A mensagem era breve e enigmática: “O Salvador nasceu. Sigam a Estrela.” Ainda estremunhado, depois de uma noite+início de dia loucos, numa espécie de after party, naquilo que lhe pareceu uma mega tenda na areia – mas não na praia, faltava o ruído do mar, ou estaria apenas abafado pelo som, aquele eco que os altos decibéis deixam durante horas mesmo depois de a música acabar, que ainda lhe ribombava na cabeça? –, Gaspar não lhe deu a menor importância. Mais, achou até que ainda estava a dormir e tudo aquilo, tenda incluída, eram fantasias oníricas, até porque duvidava que o seu telemóvel ainda tivesse bateria, ou rede. O mais certo era que já tivesse morrido há uma eternidade de horas. Quando voltou a acordar, percebeu que nem tudo era verdade e nem tudo era mentira.
A tenda era, na realidade, uma casa, mas o quarto onde se encontrava estava todo forrado com brocado de seda drapeado, repuxado para o centro do teto, onde se prendia por baixo do suporte do candeeiro de suspensão, um lustre cheio de velas. Uma coisa muito Odalisca a atirar para as Mil e uma Noites e outros arabescos ou otomanias. Adorou! Pegou no telemóvel para tirar fotos, pois já se imaginava a embarcar em mais um projeto bricoleiro, que transformaria o seu quarto numa alcova forrada a seda e desejo. O máximo! Antes de Gaspar aceder à câmara, o ecrã do telefone indica-lhe que tem sete mensagens não lidas, notificações do Facebook, WhatsApp…Parecia que tinha estado ausente uma semana, pensou. Teria passado mais do que uma noite na farra? Não seria a primeira vez, mas era, seguramente, uma das raras em que se lembrava, em bom rigor, de praticamente nada. Passou-se em revista. Estaria mais gordo? Teria o estado de intoxicação baixado a guarda e os escrúpulos da sua permanente dieta? Apalpou-se, mas sabia bem que assim não perceberia o que quer que fosse. Colocou o telemóvel sobre um dos móveis da divisão e, com o temporizador, tirou aquilo a que chamava de harmless selfie , ou sem braço, ou seja, uma simples foto. Correu a ver-se. Parecia-lhe tudo bem, exceto aqueles 300 gramas de cada lado da anca que ainda tencionava abater. Focou-se, então, nas mensagens. Sempre tanta gente a requerer a sua atenção. Um stylist não tem dias fáceis. É a estrela de televisão para vestir, é a produção de moda com umas pindéricas estupidamente magras, a capa desta e mais aquela revista, e ainda o seu blog, fora os vlogs que alimentava com tutoriais e workshops de moda… Uma “es-ta-fa-dei-ra!”, queixava-se a rebentar de orgulho de cada um dos seus feitos. Não admira que depois, nas horas ‘rasas’, como lhe chamava, se entregasse ao hedonismo e a ser um amante “fan-tás-ti-co”.
Babava-se ainda sobre a imagem do seu bronzeado tronco quando entra mais uma SMS. “O Salvador nasceu. Sigam a Estrela.” Afinal, não tinha sonhado tudo. Doido por enigmas, cabra-cega e peddy papers incluídos, Gaspar olhou a mensagem fixamente. Era a mesma que se repetia em todas as suas redes sociais e até em breves instastories, mas não conseguia identificar o emissor, ou antes, vinha apenas com um código alfanumérico, ou coisa que o valha, que de informática Gaspar orgulhava-se de saber tudo, mas apenas do ponto de vista do usuário. Passou em revista familiares e amigos, mas não tinha ideia de que algum estivesse para ser pai. A Teresa já tinha parido… Só podia ser uma brincadeira. Provavelmente do beato-folião do Melchior, esse pedaço de mau caminho que passava a vida a desafiar a sua inteligência e curiosidade com jogos pró-intelectuais. Como aquilo o entusiasmava. Demasiado, já que, para enorme pesar de Gaspar, Melchior, esse negro achocolatado, era completamente comprometido com a sua religião. Tão comprometido que chateava. E chateava ao ponto máximo, já que o impedia de se assumir claramente aos olhos do planeta como gay extraordinário que era, além de um sedutor bailarino clássico. Um dia, haveria de o desencaminhar, com salmos e aleluias se preciso fosse, ou podia mesmo arriscar um pas de deux. Não queria, todavia, ligar-lhe sem ter a certeza de que era Melchior quem estava por detrás das mensagens, para não fazer figura de ‘parva’. Era o que mais lhe faltava! Quem percebia de informática, perguntava Gaspar para os seus botões de prata wanna be diamond, da Frada? Já sabia. O Baltazar, claro! Ligou-lhe no mesmo instante.
– Daaarling, tens de me ajudar.
– Ok, vou já para aí.
Sem nada perceber e irritado porque Baltazar lhe tinha desligado o telefone na cara, Gaspar avespinha-se e, de dedo em riste, prepara-se para dizer das boas a Baltazar, quando este lhe aparece à frente todo nu.
– O quê, acabámos aqui os dois?
– Não. Os vinte, mas acho que já todos se devem ter ido embora. Devemos ser os últimos.
– Oh My God. Enrolámo-nos, Baltazar?
– Claro que não. Estás parvo?
– Onde estamos? Que sítio é este, como é que viemos cá parar?
– Não te lembras? Que grande tolo. Então foste tu que insististe em que tínhamos de abandonar a festa do Caju, porque ele foi mal-educado contigo, e mais isto e aquilo, e que estava vestido igual a ti e que não permitias tal afronta numa festa privada e blá-blá-blá… Estavas insuportável e saímos todos. Os vinte.
– Os vinte? Quais vinte, criatura?
– Os do casting de modelos, que passaste o dia a organizar para a Tetlite Models. Teimaste que tinhas de levar a miudagem toda contigo e mais não sei o quê… Quando estás bêbedo, és intragável, só te digo, Gaspar. Insuportável. Tens de fazer terapia.
Gaspar amuou um pouco, mas adorava Baltazar e sabia bem que era dos raros que aturava com leveza as suas abruptas e desconcertantes mudanças de humor e mais o seu folclore. Sim, era muito gay, mas não tinha perdido a noção de quão efusivo e cansativo era para os menos empáticos e compreensivos. O que fazer?! Era do tipo colorido! Paciência. Move on, darlings!
– Aquilo também estava fraquinho. Depois, alguém falou no palácio dos pais de alguém e outro alguém trouxe-nos para cá e é tudo – abreviou Baltazar.
Já sem paciência para ouvir mais conversa sobre a resposta à sua própria pergunta, o impaciente Gaspar apressou-se a falar-lhe da escandalosa enormidade de mensagens que tinha recebido. Na verdade, uma única mensagem, enviada e reenviada de todas as formas e feitios para todo o lado imaginável.
– Mais um bocadinho, e tinham enviado um pombo correio. O mais curioso, Baltazar, é que é enigmática…
– “O Salvador nasceu. Sigam a Estrela”?
– Não. Não posso! Também recebeste?
Lá trocaram os telemóveis e perceberam que tinham ambos recebido as mesmas mensagens, à mesma hora, em cada uma das redes sociais… Aquilo era cada vez mais estranho e excitante. Baltazar disse precisar de terminais e computadores, e programas…
– Deve estar a começar o da Fátima Lopes, serve?
– Não és assim tão estúpido, certo?
– ‘Táva a gozar contigo, monga. Nunca entendes uma piada, Balta. Vê se te tornas um pouco mais light que esse teu humor matinal, ou falta dele, também é dose!
Decidiram ligar de imediato a Melchior. Mais valia. Escusavam de estar com mais coisas, além de que apetecia-lhes aproveitar a casa, enquanto os donos não chegavam. Na verdade, nem se recordavam ao certo de quem era o palacete, que, devido à decoração meio bizantina, o esteticamente bem esclarecido stylist Gaspar tinha confundido, na sua imersão morfeica, com uma simples tenda.
Melchior rezava o seu terço matinal quando recebe a chamada de Gaspar. Não queria interromper as orações, mas sabia que Gaspar ligaria ininterruptamente até que ele atendesse, o que era enervante, desconcertante e inevitável. Mais valia que atendesse logo. O enigma adensou-se quando Melchior, furioso, diz de rompante que não pode falar naquele instante pois estava a agradecer a Nossa Senhora de Fátima a mensagem divina que acabava de receber, de que o Salvador estava de regresso.
– Também recebeste a mensagem? Que tens de seguir a Estrela e que o Salvador nasceu?
– Também, como? Como sabes da mensagem? – Pergunta Melchior estarrecido, sem conseguir esconder uma gigantesca ponta de deceção. Achou-se especial, um fiel depositário da palavra divina quando, afinal, a rainha das bichas também tinha recebido igual mensagem. O quê? O Baltazar também? Teria a ver com o espetáculo que os três representavam todos os anos pelo Natal, em que Gaspar era a vaca, Baltazar o borrego e Melchior o burro? Seria um castigo dos céus?
– Não sejas parva, nem te aproveites, com este não-argumento, para sair da peça. Não te safas assim. Sempre foste contra, mas olha que é bem católica e está super in gostar de animais e do planeta e isso e tudo o mais, e o nosso guião, mais não é do que um tremendo elogio a toda a Criação. Tu vais ver que isto é alguma partida televisiva. Não te esqueças de que eu sou uma figura pública, além de púbica (Gaspar não perdia uma oportunidade para chocar o devoto Melchior), e que isto pode ser uma mega-qualquer-coisa-internautica e assim. Vou ter de mudar de toilette, já!
Apesar de egocêntrico, aquele não era um pensamento tão disparatado quanto isso. Foi marcada uma reunião presencial de urgência numa nova creperie que todos queriam muito conhecer. Uma vez chegados, e depois de uma prova de degustação de milhares de crepes e após ter dado tempo a Gaspar para os ir vomitar, uma vez que não podia engordar, reuniram-se em torno de uma infusão de gengibre&inspiração, um novíssimo chá dietético que os três a-ma-vam-de-pai-xão. “O Salvador nasceu. Sigam a Estrela.” Leram e releram. Baltazar, o mago da informática garantia que o IP estava sempre a mudar de provedor, e que não era possível rastear a mensagem. Uma coisa muito à frente para a mente criativa e pouco lógica de Gaspar e para o pacato e modesto QI de Melchior.
Nisto, como quem vê a luz, como quem recebe na testa o crivo da fé, ou como quando se percebe que se acertou em cheio na toilette para determinado evento, Gaspar solta um grito estridente:
– Migaaass!! Já sei! É para seguirmos a Madonna!! Que parvas que fomos. Qual a maior estrela do momento aqui do burgo? E não é certo que toda a gente diz vê-la em todo o lado, quando, na verdade, apenas se vê, no dia seguinte o que postou no Insta? Como sabemos que não é fotomontagem, ou photoshopping…
Impaciente, sempre que Gaspar dizia calinadas no âmbito do seu métier, Baltazar apressou-se a corrigir.
– Gaspar, de uma vez por todas, Photoshop e não shopping, por muito que gostes de compras.
– Baltazar, sabes o que é o gerúndio de um verbo? Então, não me interrompas e ‘gerundiza’, ‘melher’, ‘gerundiza’.
Gaspar retoma a conversa e o entusiasmo:
– Não tenham dúvidas de que é disso que se trata. Isto é uma partida de um qualquer maroto e nós vamos mergulhar nela de cabeça. Vamos descobrir a Madonna e vamos segui-la. Meu Deus, deve ser ela própria que me quer conhecer. Para a vestir, certamente. Já deve ter visto o meu trabalho ou ouvido falar dele… Serei eu o seu ‘Salvador’?
– Sim, e a nós enviou porque acha que somos teus assistentes, será isso?
Gaspar não tinha uma boa resposta para dar a Melchior. Na verdade, achava que Melchior tinha razão, que eles apenas tinham sido contemplados neste jogo por arrastão, mas que a vedeta principal era ele e só ele, Gaspar.
– Não blasfemes, Gaspar. Jesus deve ter voltado à Terra e devemos ter um espírito cristão se queremos ser bem-sucedidos nesta empreitada divida.
Gaspar pisca o olho a Baltazar e anuiu a tudo que sim. Não podia era partir sozinho atrás da Madonna, seguir aquela mega estrela interplanetária all by myselfe – como repetia para si mesmo o seu cérebro em rotação máxima –, não fosse a coisa dar para o embaraço e aquilo ser uma qualquer partida de mau gosto de uma bicha ressabiada, e se havia dessas por aí. Ai, não!? Nem pensar.
Lá se meteram em buscas incessantes, pela internet e vizinhança, com somatório de todos os vídeos e qualquer tipo de imagem publicada e notícia divulgada, a fim de conseguirem apanhar a Estrela, pois só assim a poderiam seguir. Claro que se esqueceram da Etelvina, empregada de Gaspar. Não havia Google que suplantasse a sapiência, cusquice e rede de informadores daquela mulher.
– Ó menino Gaspar, eu sei onde para a senhora dona Madonna, que a minha cunhada limpa-lhe parte da vivenda três dias por semana, para ajudar a outra que ela trouxe lá do sítio de onde ela veio…
Olharam-na estupefactos. Adorável e estúpida Etelvina. Se sabia por onde ela costumava andar? Claro que sabia um sem fim de coisas sobre a senhora dona Madonna. Até já a tinha conhecido. Muito enfezadinha, garantia, e só come disparates. Olharam-na de boca aberta. Gaspar já a bombardeava com todo o tipo de perguntas sobre a dieta, o guarda-roupa, o wc, os comprimidos que ela tomava, os cremes que punha… quando Baltazar coloca ordem nos trabalhos.
– Foca-te, Gaspar. Temos de saber é por onde ela anda, logo perguntas o resto à Etelvina.
A boa da empregada lá passou a morada e até o telefone da cunhada, para ver se mais tarde, passada esta empreitada dos três gays magros, como Etelvina lhes chamava, Gaspar não poderia, disfarçado, ir um dia no lugar da cunhada ver tudo de perto e tirar notas e tudo o mais que fosse necessário. Gaspar rejubilava. Na verdade, agora que tudo parecia mais simples, uma vez que tinham ponto de partida, todos pareciam excitados com o jogo. Gaspar vigiava a porta da casa, vestido com uma gabardina que jurava ser uma réplica vintage da de Humphrey Bogard, não fosse dar-se o caso da maluca da cantora sair a pé, disfarçada de peixeira ou de material girl, ou outra excentricidade do género. Baltazar conduzia o carro estacionado perto, para perseguições a táxis ou fugas de emergência, e Melchior rezava para que tudo desse certo.
Um dia, abre-se o portão da casa e um carro giríssimo, “estilo vintage, mas em bom, de vidros esfumados como previsto sai bem devagar”, como rerlatará mais tarde o excitado Gaspar. Gaspar corre, ou antes, desloca-se o mais rápido que consegue, com os seus tacões andaluzes – andava a ter aulas de tablao e não largava os sapatos, pois ficavam bem com tudo e tinha de se habituar a eles e mais não sei o quê… Nem valia a pena indagar, menos ainda discutir com Gaspar, principalmente se o tema se relacionava, ainda que enviesadamente, com o seu guarda-roupa. Lá partiram os três no encalço do carrão da outra.
– Isto não anda mais, Baltazar?
– Não me comeces a enervar. Se quiseres podes vir tu para o volante.
O azedume de Baltazar fez com que Gaspar amuasse, mas conseguiu também que se calasse. Passaram o dia naquilo. De trás para a frente e, se bem que muita gente entrava e saía do carro, que parecia usado à laia de escritório ambulante, não havia maneira da vedeta internacional sair do ‘veículo automóvel’, como dizia Gaspar, já saturado de toda aquela estucha. Nisto, perdem o carro de vista. Num ato irrefletido e pouco lógico, mas Gaspar não era conhecido pelos seus rigores matemáticos, liga para Etelvina que, milagrosamente, consegue uma morada para onde sabe que a senhora dona Madonna irá essa mesma noite.
Quase choram de alegria agarrados uns aos outros. Colocam a morada no GPS e partem à aventura, doidos de excitação, quase sentindo o cheiro do perfume da outra. Nisto, Baltazar percebe que andam às voltas para acabar invariavelmente a percorrer a mesmas ruas. Olham para o GPS e… estava quase morto. Avariado no único momento em que NÃO podia avariar. Instalou-se o desespero e alguma histeria no muito cool Mini Cooper Countryman de Baltazar.
Baltazar sentia-se meio intoxicado, e justificadamente, já que se enchia de marijuana terapêutica a cada meia hora de condução, e Melchior não estava nem aí, acreditava que seriam os céus a indicar-lhes o trilho certo. Para se acalmarem e reorganizarem novo plano, pararam numa tasquinha armada ao pingarelho, onde serviam coisas infusionadas e em redução de espuma de qualquer coisa e Baltazar ficou logo maldisposto. Melchior petiscou coisas com nomes patetas, mas que eram apenas bifanas, na verdade, não obstante aquilo que dizia a inspirada ementa bio-fun, com ideias de jerico como hortelã do bairro, vinagrete de beterraba, espuma de lavagante e proteína de vitelo. Gaspar ria a bandeiras soltas, mas em tons pastel, pois estava a entrar em hipoglicémia.
Bebeu uma limonada com alperce da Musgueira e açúcar de Bairro da Lata, como sugeria o urban-menu daquela xafarica. Retomam o Countryman, com um estilizado bigode clássico grafitado na dianteira e umas pestanas sobre os faróis da frente. Ligam, novamente o GPS, seguindo o faro informático de Baltazar, adepto ferrenho do ‘desliga e volta a ligar’. Lá recomeça o carrossel de voltas infinitas, para acabarem na mesma miserenta praceta. Decidiram esquecer aquilo por aquela noite. Sem GPS, sem ideia sequer de onde ficava a morada, cujo nome nem sequer figurava na cidade de Lisboa. Quando estavam já a entrar em modo desolação, estado de espírito para o qual Gaspar se atirava com brutais ganas suicidas, sempre que minimamente contrariado, o que aterrorizava Baltazar, para quem sobrava sempre o ineficaz consolo, o silencioso e doce Melchior, com a sua voz de acólito diz, quase em transe:
– É aqui. Chegámos!! Olhem! É a mão de Deus a indicar-nos o caminho. Tal como eu sabia.
Os outros dois passavam-se com a beatice de Melchior. Entreolharam-se, entre o amofinado e o gozo, mas toda e qualquer expressão se lhes varreu do rosto quando, num enorme placard, escrito a néon, leram o nome JESUS.
– Ai, nossa senhora nos proteja! – Gritava Melchior, o mais entusiasmado dos três.
Não havia dúvidas, reticências ou hiatos. Tinha mesmo nascido o Salvador. Aquele era o restaurante/clube noturno mais exótico e incrível da cidade e aquela a sua noite de inauguração. Melhor ainda, o porteiro era o irmão do Jócas, um matulão do melhor que havia, que andava há anos apaixonado por Baltazar, mas este teimava que eram incompatíveis na cama, vá-se lá saber porquê.
– Migaaaas, estamos tão safas! Isto está tudo a bater tão certo! Vamos lá inaugurar a coisaaa!!! Para arrasar nem precisamos de mais do que do nosso kit básico. ‘Bora lá mostrar-lhes como se inaugura.
Foram, e foi de arromba. “Di-vi-nal”, diria mesmo Gaspar. De tal forma que Madonna estava mesmo lá, mas nenhum deles quis saber do facto. Era apenas uma garota velha e por lá havia toda uma nova e nunca vista fauna a catalogar. A estrela foi de tal forma ignorada por aquela comunidade lampejante, que acabou por sair de mansinho, segundo dizem. Foi, e é a pura verdade, uma verdadeira noite do advento.
Melchior percebeu finalmente a mensagem da sua santinha de devoção: ser feliz tal como era, pois o amor de Jesus todos acolhe. Uma verdade que o próprio restaurante/bar/clube bem provava. Deus pode ser grande, mas Jesus era e-nor-me. Um dos maiores da Europa, comentava o orgulho lisboeta.
Baltazar foi o gay da festa, com os seus moves e coisas transcendentes, a que a estrela mundial não ficou indiferente. O bem tonificado Baltazar já está, podemos revelar, pois já se assinaram contratos, a caminho de uma world tour brutal.
Gaspar conquistou o achocolatado Melchior, apenas para perceber que, afinal, não era bem aquilo que queria para a sua vida amoroso-sexual. Aquilo quase parecia um Natal fora de horas, mas a horas. Desatou a promover o local e, apenas graças a si – a presença assídua, mas desprezada de Madonna nunca foi tida em conta por Gaspar ou qualquer outro indivíduo na berra –, o local tornou-se o mais in do planeta e tudo. Entrou diretamente para os tops das cenas imperdíveis nos Condé Nast e Monocles da vida e Gaspar apressou-se a adicionar no seu perfil do Linkedin: Trendesstter do momento.
O melhor de tudo? Mantinham-se os três amigos, como sempre. Mais incrível do que isso? Estavam magérrimos, es-tu-pen-dos e felizes. Como a vida pode ser perfeita!
Moral da história: Ser católico nem sempre é muito católico, mas Deus gosta de todos, principalmente dos que descobrem o caminho sozinhos. Sempre é menos trabalho para ele.
tão bom!!!!
Obrigada, Flor!!!!