Informaticozinho 1 – MoboLau? Sei perfeitamente quem é pá! Fez-me a vida negra na Enterprise, aquela multinacional ‘amaricana’, onde estagiei. Foi lá que o tipo subiu até ser promovido a génio do IT. Começou aí o meu ódio ao gajo, não sei se ‘tás’ a ver. Era um idiota chapado e tinha a mania que sabia tudo, e o caraças, quando éramos nós que fazíamos o trabalho todo, pá. Todo! Eu sabia mais do que aqueles tipos todos juntos. Um departamento inteiro e só eu é que conseguia resolver os problemas do Firewall4EverAndEver e o caneco, pá! E depois, entrava no gabinete do administrador a engraxar, a dizer que tinha conseguido. Que tinha sido muito, muito difícil e mais não sei o quê mas que, finalmente, tinha o problema solucionado. E nós a ver aquilo tudo pá.
Informaticozinho 2 – O tipo continua o mesmo sacana, só te digo. Não me perguntes como, mas tem os administradores da Galactica nas mãos. Quando, na sexta-feira, passada lhe fui entregar a carta de demissão, virou-se para mim, com aquele ar sarcástico e disse-me: “Veja lá o que vai fazer com toda a informação que recolheu aqui na empresa ao longo destes anos todos. Se descubro que vai, por exemplo, montar a sua própria empresa e que leva, um cliente que seja, para o seu negócio, vai ter de se haver comigo. Vou estar de olho em si.” ‘Tás-me a ver, né?! Fiz-lhe o meu mais irónico sorriso e disse-lhe que, no lugar dele, também eu ficaria alerta. Mudou logo de cor. Por isso, imagina só se ele descobre que eu e o Informaticozinho 3 nos juntámos a ti e que somos donos de uma empresa concorrente da Galactica. Vai espumar!
Enquanto os informaticozinhos 1 e 2 trocavam auto galhardetes – sim, porque os informáticos desconhecem a forma simples do elogio, aquela que se dirige a outrem, apenas conseguem dizer maravilhas de si próprios – sobre o seu olímpico domínio das artes informáticas, entra, esbaforido pelo escritório adentro o Informaticozinho 3, com o seu colete de lã com losangos verdes e vermelhos, calças castanho-chocolate à meia canela, peúgas brancas de turco e a habitual camisa de colarinhos que se agigantavam para os idos anos 70, 80 do século anterior. Tirou da sacola que usava à tiracolo um pacotinho de leite com chocolate e, depois de acalmar com o revigorante néctar lácteo, lá conseguiu, articular uma espécie de discurso.
Informaticozinho 3 (em stress total) – Estamos feitos. Mas tão, tão feitos. Acabo de saber em primeiríssima mão e segredo absoluto que MoboLau (longa pausa para respirar), conseguiu entrar nos ficheiros da nossa contabilidade. (Nova tentativa de recuperar o fôlego.) E vocês sabem como eu sou bom a descobrir estas coisas.
Informaticozinho 2 – Não é possível. Fui eu próprio quem construiu o RaioXptl que impede qualquer tipo de invasão ao nosso GroundControlToMajorTom.
Informaticozinho 1 – Como é que pode ser? Deves estar enganado. Além de tudo isso, eu protegi todos os dados com um AtireiOPauAoGato infalível. Criei-o em 36 horas e é impenetrável. Ter aquilo ou uma parede de betão é igual…
Informaticozinho 3 – Igual não é, pois o gajo até já conseguiu boicotar alguns dos nossos pagamentos ao banco. Os relativos ao empréstimo. Precisamos de reaver o dinheiro.
Informaticozinho 2 – Ele só pode ter-se associado ao Xiribitatá. De outra forma jamais passaria pelo nosso CitizenKane. O CitizenKane é o mais elaborado sistema de proteção de ficheiros do mundo e só um tipo como o Xiribitatá poderia conseguir desencriptar todas as passwords necessárias e mover os BrigadeirosDeChocolateBranco com que minámos a coisa. Informaticozinho 3 – MoboLau gaba-se ainda de ter derrubado tudo em menos de cinco minutos. Diz que foi como soprar um castelo de palha.
Informaticozinho 1 (de nariz enfiado em quatro monitores) – Acho melhor virem ver isto. Todos os nossos ficheiros estão a mudar de sítio de forma aleatória. Temos um Bug assassino à solta na nossa rede. Salvem os backups todos, agora.
A atrapalhação, encontrões entre informáticos, cadeiras que caíam, quadros que se soltavam das paredes e os litros de Sumol laranja entornados sobre os teclados – assim se traduz a azáfama e o stress no mundo dos informaticozinhos – fez com que apenas um quarto de hora depois estivessem finalmente a grunhir e a resfolegar – sinónimo de trabalho árduo e produtivo – embrenhados nesse universo paralelo que é o mundo digital.
Informaticozinho 3 – Já lhes dei com um GaloDeBarcelos no Bug. Viram-no? Logo que o encontrem atirem-no com toda a força em todas as portas de entrada. Acho que se infiltraram através do nosso PéDeSalsa. Protejam essa zona.
Informaticozinho 1 – Epá, consegui o impossível. Uma MousseCaseiraGlutenFree já está a caminho da MotherBoard. Um gajo quando está aflito consegue milagres. Viram? Viram? Até merecia um PrintScreenMissUniverso, mas acho que vou antes ficar com um Anorak de souvenir.
Informaticozinho 2 – Uma MousseCaseiraGlutenFree? Bem!!! Espero que consigas voltar a criar outra dessas para futuras eventualidades. Percebeste como fizeste?
Informaticozinho 1 – Sim, fui gravando a encriptação. Quando vos contar, nem vão acreditar como cheguei lá.
Informaticozinho 3 – Ops! Bad news. A cara de MoboLau surge agora como ícone dos nossos PoPlastics em vez das gomas em forma de ursos que nós tínhamos.
Informaticozinhos 1 e 2 (em uníssono) – Não posso!!?
Agora, sim, estavam verdadeiramente tão furiosos quanto assustados. Mergulharam bem dentro do ciberespaço para de lá saírem muito tempo depois. Não se sabe bem ao cabo de quantas horas de muita transpiração, alguma inspiração e infindáveis e indecifráveis comunicações internas entre os três crânios do software, lá respiraram de alívio, mas apenas por alguns dias. Uma noite, quando se preparavam para sair do escritório, já com os seus kispos, todos iguais, vestidos, um sopro de vento parece sair das colunas de todos os computadores. Uma espécie de bafo forte. Agarraram-se uns aos outros em pânico. Nisto, todos os ecrãs se iluminaram em simultâneo e em todos eles surgiu uma cabeça de lobo que derrubava, com uma espécie de arroto de satisfação, um barraco de madeira. No meio do nervosismo, soltaram umas gargalhadazitas. Afinal, não eram espíritos ou almas assombradas em divagação terrestre. Eram apenas cenas informáticas, além de que até acharam genuína piada à imagem do lobo.
Informaticozinho 1 – Bolas, a cabeça do lobo está muito bem conseguida! Devem estar a utilizar um QuimBarreirosNetForcing.
Informaticozinho 2 – Pois devem. Somos uns génios! Por isso é que o nosso TiaAnika não estava a funcionar. Eles não estão a usar as Drives, estão a usar os DriveIns. Tu, bloqueia já o nosso ToucinhoFumado e tu não deixes que eles acedam ao SenhorDosAnéis. Isto pode demorar, mas vamos conseguir.
Informaticozinho 3 – É para já. Agora estou mesmo chateado e eles não sabem como eu fico quando estou assim. Vai tudo à frente.
Informaticozinho 1 – E se puséssemos o FungagáDaBicharada?
Informaticozinho 3 – Onde? Como?
Informaticozinho 1 – Falo da canção do Zé Barata Moura, pá, só para descomprimirmos.
Informaticozinho 2 – Nada disso, não nos podemos distrair. Quando tudo terminar, se correr bem, logo brindamos com leite e mel, certo?
Informaticozinho 3 – Epá, vai ser cá um shot proteico que eu vou-te contar.
Informaticozinho 1 – Não contem comigo, ando a Imodium e receio estragar tudo com leite e mel… Olhem, olhem! Venham cá ver isto? O bug deles é alérgico ao Minecraft. Vamos tentar uma coisa, já. Abram todos o jogo e cantem o tema “Aleluia” dos Maranata, enquanto injetamos SonasolAmoniaclSemSerMarcaBranca no sistema, em 3…, 2…, 1.
Enquanto executavam a complexa e árdua tarefa, que um informático não se dá bem com o cancioneiro popular, ou qualquer outro, de resto, como é do conhecimento geral, o invasor ia mirrando sob os seus olhos lacrimejantes de alegria. Tinham conseguido e nem capazes se sentiam de auto elogiar-se. Era o desespero geral e absoluto. Tinham vencido o imbecil do MoboLau com tamanha subtileza e engenho que até aos próprios tinha surpreendido. Informaticozinho 1 ainda conseguiu dizer, no nano segundo que se seguiu ao total sumiço do bug, quando o rosto do lobo que soprava a casota de madeira se distorcia numa despixelização impossível:
– Ainda vamos ter direito a um Doodle do Google. Não duvido.
Nenhum deles duvidava. Desataram a rir daquela maneira macabra e roncada que em tudo se assemelhava ao grunhido dos suínos e que era inspirada e expirada exclusivamente pelas narinas e não pela boca. A coisa durou quase um minuto até ir diminuindo de cadência rumo ao grunhido final. Depois, enfiaram de novo a cabeça nos seus teclados. Havia galáxias paralelas a desbravar.
Moral da História: Jamais tente entender um informático. Eles existem e pronto. É só isso.
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