Pastéis de Feijão Em Três Atos

Este episódio desenrola-se numa estrutura em três atos, como qualquer bom clássico ou moderno.

Trata-se de uma peça natalícia adaptada aos tempos de crise que se vivem e àqueles que já se adivinham. Não desperdice dinheiro em fruta cristalizada, que é cara e já nem sequer tem vitaminas, apenas açúcar em quantidades épicas, para não dizer pornográficas.

Não se endivide por conta de frutos secos do tipo pinhão ou nozes, que já custam mais do que barritas de ouro embebidas em platina com topping de diamantes.

No fundo, nada faça que possa comprometer as suas finanças. É apenas Natal e o espírito é que conta, certo? Isso.

Aqui, honramos as nossas origens e fazemos o elogio do mais desprezado dos luxos: a simplicidade do feijão. Alguém tinha de fazer isto, pelo que nos chegámos à frente e aqui fica esta pérola da dramaturgia culinária.

Uma nota prévia, demolhar o feijão é mesmo necessário, mas como sublinha o velhinho rico que se apaixona por Jack Lemon em ‘Quanto mais quente melhor’: “Ninguém é perfeito!”

Primeiro Ato – Apresentam-se os ingredientes protagonistas da massa e envolvemo-los num pequeno enredo, em que farinha, água, gordura e sal se interpelam, adensando o drama inicial, que é ver toda uma bancada da cozinha em perfeito desalinho e ainda aguentar os espirros que a farinha exige.

Segundo Ato – Aqui tudo se complica, dada a exigência dramática de cumprir com a ação de fazer o recheio, enquanto a outra massa já repousa no frio, alheia ao que se passa à boca de cena, onde açúcar, água quente, puré de feijão e miolo de amêndoa se digladiam com gemas de ovo eletrizantes. Tudo está ao rubro, a exigir um desfecho, feliz, se possível.

Terceiro Ato – É neste ponto da narrativa, guião ou argumento que os astros se alinham e se precipitam para a conclusão, que exige a presença de todos os atores no palco. Já se veem os círculos de massa recortados deitados sobre farinha polvilhada, as formas que se casarão com cada um deles e a doce massa com que se preencherá tudo. Mesmo antes do pano fechar, há tempo para polvilhar com açúcar em pó, para levar a forno pré-aquecido a 180 ºC, aguardar que todos de lá saiam salvos e vivos, altura em que, em apoteose, se fecha o pano e o público se levanta, extasiado, para uma salva de mais de meia hora de ovação em pé. Ufa!!!! Conseguimos e o feijão foi simplesmente  Brilhante! Que talento!

Ingredientes:

O argumento conta com…

– Farinha

– Açúcar

– Açúcar em pó

– Sal

– Água

– Frigorífico classe A+qualquer-coisa, para arrefecer os ânimos da massa

– Puré de feijão

– Miolo de amêndoa

– Ovos

Tempo de preparação:

Exatamente três atos. Nem mais, nem menos. Mais rigor e precisão do que isto, não conhecemos.

 

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2 Comments

  1. Luis Galvao

    Aplausos, aplausos, etc

    • Marina Rocha Ribeiro

      Obrigada, Obrigada e etc. e tal!

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