Falamos de saborosas panquecas disformes com farinha, ovo, bacalhau e salsa que dificilmente poderiam nascer do engenho culinário de outro país que não o nosso querido Portugal. Questiono-me até porque nenhum cantor se dignou ainda a colocar em verso + música esta poética pantagrulesca. Conhecem-se hinos populares ao bacalhau, mas a patanisca tem sido soberbamente negligenciada pelo mundo artístico. Lamentável. Podia ser qualquer coisa que remetesse para a relação causal da patanisca com o advento dos Descobrimentos ou entre os novos planos de poupança e a necessidade de aproveitar restos de bacalhau, ou entre a Páscoa e o uso de ovos, ou ainda entre os direitos dos mais desfavorecidos e a descida ou não dos impostos diretos. Há todo um mundo a explorar, pela mão das pataniscas que ninguém ousou ainda desbravar. Vamos ter a coragem de ser essa primeira pessoa. Escreva já o seu poema e lance-o ao mundo. Liberte a patanisca que há em si e assuma-se o poeta que sempre desejou ser. A cozinha e os tachos bem podem esperar. Este prato típico agradece.
Atenção: Estamos no reino das gorduras e frituras tradicionais. Se não quer ultrapassar esses 39 quilos de que tento se orgulha, perceba que isto não é para si especifica ou genericamente. É para todos os outros.
Atenção II: O bacalhau deve ser de primeira qualidade. Nada de sucedâneos ou equiparados e mesmo restos de outras refeições devem ser bem avaliados.
Ingredientes:
– Veia poética (opcional)
– Vontade de mudar o mundo
– Pouca apetência para a cozinha
– Pataniscas, se fizer mesmo questão
– Um singelo mas poderoso arranjo musical
– Uma boa editora
– Ausência de embaraços temáticos
– Uma promoção de arrasar (o Tony plagiador e o Quim gladiador de brejeirice que se preparem)
– Boas vibrações
– Bacalhau do bom
Tempo de preparação:
Seis meses a um ano e muitos conhecimentos nas rádios nacionais e regionais.
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