Tanto para falar sobre isto, tão pouca paciência! Se há assunto que me faça logo entrar numa cozinha e ganhar ganas de cozinhar impropérios é uma boa pepineira. Que fartote inspiracional, que vontade de trincar, que apetite maledicente, que maravilha, na verdade! A pepineira. Como descrever este prato tão exótico, quase aberrante? Vamos tentar.
Tentativa 1 – Pepineira é esforçar-se em excesso para mostrar que se é entendido, principalmente quando não se domina o assunto e não se é, de facto, entendido. Pode ser em áreas tão diversas como moda ou refluxo gástrico. Sempre que há demasiado esforço envolvido, acorrem à ideia imagens escatológicas, o que nunca é bonito, fora da adequada parafilia.
Tentativa 2 – Pepineira é abusar de folhos, reposteiros, padrões florais, grafismos vários, acessórios, detalhes… Mais uma vez, é o excesso e a sobreposição de poluição, seja ela, visual, sonoro ou de ideias. É a tentativa de nos vencer pelo cansaço.
Tentativa 3 – Pepineira é uma certa altivez bacoca, fruto do nada, apenas porque sim, de quem, por exemplo, diz que nem conhece o que se faz ou vende por cá, porque só faz compras em Paris ou Nova Iorque, quando por interlocutores tem apenas gente remediada.
Tentativa 4 – Pepineira é usar sapatos de sola, rijos, pesados, com atacadores e obviamente contrários às necessidades dos delicados pés, calçá-los sem meias e exibi-los com calças cujas bainhas distam 40 centímetros do sapato, ostentando a coisa ad nauseam.
Tentativa 5 – Pepineira é encher um discurso banal, ou qualquer outro, mas principalmente banal, com a triste técnica do name dropping, sem sequer ter lido, ouvido ou discutido, uma linha, uma nota, uma ideia do génio que cita ou meramente refere.
Tentativa 6 – Pepineira é, muito simplesmente, armar-se ao pingarelho e isso implica, mau-gosto, falta de inteligência emocional e outras competências sociais, boçalidade, inferioridade moral e de caráter. É idiota, triste e lamentável.
Tentativa 7 – A pepineira é muito coitadinha!
Olha, com tudo isto, são horas de jantar e ainda nada feito na cozinha, exceto uma infinidade de pepinos descascados. Se calhar, fazemos uma salada, o que me dizem? Ou um gaspacho? Também podemos apenas cortá-los em finos palitos, ou rodelas finas como papel vegetal, temperá-los com sal e mergulhá-los em molhos à escolha. Vamos a isso, que é simples e livre-se de lhes arranjar um nome pepineiro!
Ingredientes:
– Pepinos, claro
– Sal a gosto (e não apenas em agosto, atenção a este detalhe!)
– Facas várias, até acertar naquela que permite a grossura desejada para os palitos
– Molhos vários
– Pachorra, em muitos casos
Tempo de preparação:
Só um pepino, entre descascar grosseiramente e ‘palitar’ finamente… Cinco, sete minutos? Isto se sim, senão, multiplicar este tempo pelo número de pepinos e subtrair-lhe o tempo que a prática, bons procedimentos e a mecanização permitem poupar ao saldo final. Olha que bem que isto ficou!
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