As queijadas de Sintra são doces pavlovianos. Só de pensar nelas e já estamos a salivar. Nem precisamos de campainha. É, pois, de fácil compreensão que se deseje tê-las sempre por perto. Porém, com isto não pretendemos mudar-nos de tachos de panelas para o microclima de Sintra, e levar com os seus humores nebulosos todos os dias do ano, e ainda a humidade, o vento e o seu célebre ‘capacete’ de nuvens, capaz de ensombrar o mais exuberante verão. Esta é a forma hipócrita de invejosa de dizer que seriamos capazes de vender um rim e o baço para conseguir viver num dos palacetes bem no centro da vila, mas nem assim conseguiríamos. Mais ainda porque bastariam uns passos para estar cara a cara com o resultado de um dos mais antigos receituários conventuais, o que implicaria menos saliva desperdiçada. Estaria logo ali, bem à mão.
Esta receita foi concebida para todos aqueles que não vivendo em Sintra, não conseguem passar sem uma das suas queijadas. Todavia, esta não é uma recita de compensação, é a própria recita original, replicada até à náusea e aos dias de hoje pelas mais talentosas e tradicionais casas de queijadas de Sintra, a operarem em Sintra, talvez desde o tempo de D. Sancho II, no místico Séc. XIII. Não fossem as armaduras de então, que impunham rígidas dietas, sob pena de, se assim não fosse, se ficar enclausurado par sempre dentro delas, e aquela boa gente teria enveredado pelos trilhos da obesidade. Porém, os transportes escasseavam, andava-se muito a pé, havia questões com a vitamina e a proteína também… Os doces, a bem da rigorosa verdade científica que aqui nos reúne ciclicamente, também não eram para toda a gente, apenas para os donos de castelos, o que não seriam mais de muito poucas dezenas e isto já contabilizando os palácios grandes.
Como se percebe, no que toda a igualdade social e universo imobiliários, nada mudou significativamente. Mas hoje, aqui, vamos tratá-los como reis e rainhas, que sois, e explicar-lhe como ter queijadas de Sintra sempre à mão sem ter de ir a Sintra. É fácil e há mais do que uma resposta:
1 – Mande a Sintra alguém por si. Ir pessoalmente é muito plebeu.
2 – Vá passar um fim de semana a Sintra, num belo palácio de todas as estrelas e avie-se para o ano todo, que hoje em dia as arcas frigoríficas fazem milagres na fresca manutenção dos alimentos e seus componentes. Gelo é vida!
3 – Solicite os serviços daqueles rapazes ‘mochileiros’ e vá encomendando conforme lhe apeteça.
4 – Encontre um frade bondoso ou uma freia amável e vá pedindo favores enquanto louva a Deus.
5 – Se lhe der a louca, procure mesmo uma boa receita e… boa sorte!
Ingredientes:
– Fanatismo por queijadas de Sintra
– Expediente para contornar obstáculos
– Telefone com bom cesso de rede e dados móveis com grande mobilidade e em quantidade suficiente
– Morada que os senhores mochileiros contemplem no seu raio de ação
Tempo de preparação:
Depende muito de tudo o que acabámos de enumerar, certo? Mas por amor da Santa, não compre no supermercado. Nada tem a ver!
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