Esta receita está para a culinária e para a sofreguidão dos gulosos como o jogo Second Life para a vida virtual dos mais patetas. Passamos a explicar, porque esta é uma receita com história e um longo passado conventual, às mãos de hábeis e engenhosas freiras especialistas em claras de ovo, as quais eram santas devido às suas inúmeras utilizações. À conta das santas claras de ovo, empregues na goma de passar a ferro os duros colarinhos da roupa domingueira, e da outra também, dos mais abastados, e ainda para purificar o vinho branco, estas laboriosas abelhinhas do saber caseiro mantinham as finanças conventuais em bom estado de saúde e em alta os seus índices de colesterol. Ora, com o uso e abuso de tanta quantidade de claras de ovo, daí o nome do Convento de Santa Clara, o que passou a incomodar aquela comunidade de belas freiras roliças foi o desperdício de gemas. Por isso se dedicaram as clarissas, paciente e laboriosamente, ao invento de tanta doçaria ‘colestroica’ onde o número de gemas – percebe-se agora porquê – é sempre assustador. Já se sabe, não podendo sair do convento, o tempo parecia sobejar para diversões gulosas e exaltações degustativas. Um dos inventos culinários foram precisamente rebuçados de gema de ovo com açúcar e ainda gema de ovo e ainda mais açúcar. Se acha esta história deliciosa, espere até provar os ditos rebuçados, cuja cor e toque suave, daquele tipo que se derrete na boca, tira qualquer um do sério. Exceto as freiras, que tudo apreciavam no maior recato e decência divina e mesmo quando, com as mãos besuntadas de óleo, moldavam os rebuçados com habilidade entre as palmas das mãos, para eles olhavam como se de hóstias se tratassem. Claro que, hoje, a questão se coloca do avesso, ou seja, o que fazer ao desperdício de claras? Não esperam que vamos desatar a fazer goma para camisas, certo? O melhor é aprender a fazer um bom Molotof (não confundir com bombas incendiárias de fabrico caseiro) para evitar maus governos e coisas do género. Após concluídos, os endiabrados dos rebuçados em tudo se parecem com as gemas. Não é diabolicodivinal? Bem-haja irmãs clarissas deste mundo!

Ingredientes:

– Gemas de ovo em quantidade industrial (não se esqueça, por amor de Deus, de separar as gemas das claras).

– Açúcar em doses generosas. Não vale a pena partir para uma receita que se resume a uma dose de proteína que entra quase direto na veia, para depois estar a poupar no açúcar, porque faz mal e engorda, certo?

– Água, parece que faz sempre falta, nem que seja para se ir hidratando quando já estiver farta de fazer bolinhas e lavar as mãos no final.

– Um óleo para moldar os rebuçados sem que a massa se cole às mãos. Atenção, um óleo alimentar, aquele que assiduamente troca no motor do carro não é o indicado, mas esta é apenas uma recomendação, pois entendemos que em culinária há que ser criativo e experimentalista.

– Uma freia é indispensável. Ninguém como elas domina a técnica e a mão certa para doces. Um bom doceiro ou pasteleiro, pode ser um nabo noutras áreas da culinária e vice-versa. Jogue pelo seguro, não se poupe a esforços e arranje uma clarissa.

Tempo de preparação:

A receita remonta ao século XVIII, segundo os historiadores, para quê, agora, começar a medir o tempo? Até parece pecado!

 

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