Há receitas honestas, humildes, amigas do seu amigo e esta é uma delas. Se julga que vai aprender a fazer uma sobremesa ou bolo para o lanche, fica logo elucidado, pois a pobrezinha, esclarece logo tudo, dizendo ao que vem: é caramela, sim senhor, mas não tem caramelos. Isto porque – e aqui vai mais um pedaço de conhecimento avulso, que brota da nossa erudição – se designa zona Caramela à área compreendida entre o Rio Frio e Pinhal Novo, o ue inclui lugares e lugarejos vários, como Palhota, Poceirão e por aí fora, local de migração beirã em meados do século XIX. Claro que a turma que acolhia os migrantes passou a designar estes trabalhadores rurais, que nas Beiras não tinham trabalho, por Caramelos. Não se sabe muito bem porquê, e não obstante termos sérias dúvidas quanto à intenção, a verdade é que o nome é bem simpático e elogioso, na medida em que poucas coisas têm tantas características boas quanto o caramelo. Afinal, tudo o que engorda é maraviloso e essa é a prova dos nove nestas contas calóricas, e digo isto apenas a pensar nos que alimentam dúvidas, que são coisas que exigem muito nutriente, como se sabe, Sopa Caramela, portanto, é um repasto farto, rústico, cheio de nutrientes, enchidos, couves de todos os tipos, muito feijão e outros legumes e ainda mais uns quanto enchidos não contemplados nos primeiros, bem como outras carnes e entulho do bom. A bem da verdade, é um cozido transformado em sopa, o que é ma-ra-vi-lho-so!

Há mesmo rivalidade no universo da Sopa Caramela, com aldeias e vilas a chamarem a si o superlativo relativo do adjetivo bom, ou seja, a anuciarem-se como a melhor sopa Caramela. Uma coisa levada a sério, o que é ótimo para os comensais, pois vão-se apuranso sabores e paladares, com vista a subir a um qualquer pódio culinário.

No meio de tudo isto, claro que não há lugar para caramelos e coisas doces. No final, se quiser, sempre pode comer uma fartura, que já é suficiente para repor os níveis de açúcar no corpo.

Ingredientes:

– Couve e repolho e tudo o resto que tenha folhas verdes impermeáveis

– Chouriços de todas as variedades, quadrantes e qualidades, tonalidades e proveniências

– Feijão vermelho, que na verdade é mais para o castanho ou bordeaux. Na falta deste avance com feijão de qualquer outra cor, que não somos dados a racismos ou xenofobias, nem mesmo no que toca ao feijão

– Batata

– Carnes

– Cenoura

– Nabo

– Tudo o mais que entender e faça sentido neste contexto rústico

Tempo de preparação:

Há que reunir todos os ingredientes. Se o conseguir de uma assentada, encurtará o tempo necessário. Se precisar de mais do que uma ida ao supermercado, à praça ou feira, já se complica tudo. Depois, fazendo um breve refogado, e tendo as carnes cozidas, é só misturar tudo. Quanto tempo é que demora a confecionar um cozido à portuguesa? Uma manhã? Por aí, sim, aponte para uma manhã e um mês, segundo os nossos cálculos (matemáticos e não renais, pois somos mais pelo rigor do que pelas pedras).

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