É o melhor tomate do mundo. Nada se lhe compara, na medida em que chega ao mercado, quando chega, já naquele estado ideal de maturação, de apalpamento, esborrachamento e esmagamento, daí a necessidade de alguma gaze, para manter tudo no sítio, ou quase. Há quem se perca por tomate de Gaza, mas nós, depois que descobrirmos o de gaze, já não nos deixamos enganar pelas vogais. É o tomate ideal para esta receita, pelo que não comece já a inventar desculpas para não sair desse doce marasmo à beira da piscina e não ir já para a bancada da cozinha preparar tudo. Adquirido o tomate da Faixa de Gaze, já naquele estado pré-polpa, lave como conseguir e reserve. Avance para um refogado com cebola e aquela dose certeira de azeite (toda a agente sabe qual é essa medida clássica da cozinha), e apure até que a cebola ganhe transparência de papel vegetal. Agora, sim, deite nele o tomate desfeito, que embora de gaze quase parece de outros conflitos, acrescente manjericão, se gostar, ou louro, se preferir, e mexa mais um pouco. Some-lhe água, fria ou quente, e tempere com sal ou flor do mesmo, que as flores ficam bem em qualquer lugar. Deixe ferver, o tempo de ler umas quantas páginas da Odisseia, uma qualquer, e apague o fogão. Quer dizer, o bico em que estava a cozinhar este preparado. Estava, não estava?
Ponha tudo no robô de cozinha, já que o de aspiração é demasiado nervoso e especializado para abarcar outras funcionalidades, e ponha tudo a mexer. Por nós já estava a coisa feita, mas os puristas insistem que a sopa seja passada e que vá mais um tempo ao lume. Desperdício de tempo e de nutrientes. Faça como melhor lhe aprouver. Se os comensais já estiverem a bater à porta – ainda que tenha pedido que ninguém chegasse antes das 21h –, aqueça apenas e já está. Decore com ovo cozido desfeito e folhas de manjericão, ou a folha da própria receita, elaborada num bonito origami, e já está! Foi bom, não foi? E ainda adiantou a leitura. Fajta limpar a cozinha e o robô, e o passador… O quê?! Sempre usou o aspirador também? Não se apoquente. Pode ser que, durante a noite, a fada da cozinha apareça e deixe tudo num brinquinho. Ahahaha!
Oh, esquecemo-nos de informar que antes de tudo isto deve retirar a gaze do tomate. Não tirou? Triturou tudo? Foi tudo para a sopa? Alguém se queixou? Sem stress. O algodão também te origem vegetal. Além de que as melhores receitas surgem de erros e meros acasos e, mesmo, de algumas dores de barriga.
Ingredientes:
– Uma viagem à Faixa de Gaze ou à farmácia para alguma gaze, e respetivos testes à COVID-19 (ainda se fazem ou já saíram de moda?)
– Outra à mercearia, ida e volta, mas já sem teste, que o assunto COVID-19 parece morto e enterrado, muito embora ainda esperneie por aí
– Recipiente para trazer os tomates (um saco de pano, claro, por causa da ecologia e porque se usa imenso)
– Tomates da Faixa de Gaze, ou mesmo de Gaza, que trouxe de ‘recuerdo’ de uma qualquer horta
– Cebola, um clássico
– Alho, se quiser
– Louro, se gostar
– Manjericão, se estiver para aí virado, que isto de ir a Gaza ou só à gaze, cansa e aniquila o humanismo
– Sal ou flor do mesmo
– Pimenta rosa, para fazer pendant com o tomate
– Ovo cozido, também ele desfeito no prato, só como apontamento, sinalizando o quanto se preocupa com o empratamento, além de que já que prescindou do borrego assado, sempre é um shot de proteína
Tempo de preparação:
Logo que se possa viajar para Gaza, avisamos. Opte antes pela gaze e tem o jantar resolvido, por hoje, numa qualqer farmácia de servilo perto de si. Se não for perto de si vai demorar mais, avisamos deste já. Entretanto, e porque estimamos feriados e fins de semana esticados, não se apoquente e uma Páscoa Feliz!
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