Não estava à espera, pois não? Nós também não. Mas como passar ao lado deste título sem nele nos retermos? Como conseguir não experimentar tal gourmelandia? Como não correr para a cozinha e pôr em prática tão macabro plano? Como não salivar de estupidificante expectativa quando nos deparamos, numa só frase e quase sem intervalos de permeio, com estas três iguarias? Em que lâmpada se escondeu o génio que deu à culinária a possibilidade de reunir a delicada e estaladiça massa strudel com as viscosas caracoletas e o exótico gengibre? A vida está cheia de surpresas. Esta é apenas mais uma. Vamos desfrutar dela como ela merece.

Ora bem, antes de mais o strudel. Compre um já feito e elimine o recheio que possa ter dentro. Há quem lhe dedique tão-somente o desengraçado preparado de maçã, um clássico da Europa central, ou franco-germânica, com a Áustria à cabeça. Reserve, bem como um bom Kompensan, pois todas as questões de química são voláteis e inquietantes para estômagos sensíveis.

As caracoletas devem ser apanhadas vivas, céleres e viscosas, apenas para depois se lhe suprimirem todas essas características: vida, rapidez e baba, mas por outra ordem. Ou seja, primeiro apanhe-as ou compre-as, que não estamos aqui para complicar. Depois lave-as em tantas águas perfumadas quantas as que conseguir deitar a mão. Finalmente, mate-as paulatinamente o que não implica o uso de paus, atente nesse facto de suprema importância.

Finalmente, o gengibre. Sobre este nada há a dizer. Pode comprá-lo na versão rizoma, a qual depois exige raspagem, tal como faria à casca do limão, que por acaso a receita dispensa, vá-se lá saber por que razão. Pode ainda optar pela versão processada – menos amiga do bom ambiente, já se vê –, e que o apresenta, a ele, ao gengibre, já em pó, muito fino e todo ele calibrado. Adicione-o simplesmente.

Por fim, some tudo isto numa fritura, vulgo refogado, num cozido, vulgo sem graça, ou numa variante à sua escolha que pode implicar robôs de cozinha, liquidificadores ou panelas de pressão. Preferindo, dispense a massa a este processo e guarde-a para a voltar a rechear com o preparado resultante dos outros dois ingredientes. Por falar neles, nos ingredientes, eles aqui ficam.

PS – (Não o partido, claro!) Hummm! tem a ver com a dúvida e estranheza que surge logo no primeiro impacto. Tem ainda a ver com o feito extraordinário de imaginar juntar tudo isto; com a possibilidade de acabar por ser apetitoso; ou com a espectável repulsa.

Avise-nos depois, sobre qual dos casos se aplica melhor.

Ingredientes:

Strudel numa qualquer versão:

  • Produzido de raiz, para os masoquistas
  • Comprado, para os práticos
  • Já recheado com algo – muito provavelmente aquela coisa de maçã com canela –, que depois terá de lhe ser subtraído, para os complicados

– Caracoletas vivas, rápidas e viscosas a quem terá de eliminar precisamente tudo isso: a vida o visco e a mania de andarem por aí a abrir

– Gengibre, em rizoma ou em pó

– Imaginação para transformar isto em algo que se assemelhe a um prato

– Estômago para enfrentar todo o processo e ainda arriscar a prova

Tempo de preparação:

Se fizer como eu: tempo zero. O que nem é muito, nem pouco. É apenas zero. Afinal, tínhamos de descomplicar isto, não é?!

    

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