O meu amor por borregos vivos é diametralmente oposto àquilo que sinto pela sua carne no prato. Não podia odiar mais. Quer dizer, podia, mas acabaria num dos círculos do Inferno de Dante e nenhum deles tem vistas particularmente apetecíveis e eu gosto de uma boa paisagem circundante. Borrego guisado, por sua vez, e já que estamos com vontade de alegorias dantescas, está para mim como bactérias e germes para os hipocondríacos ou maníacos das limpezas. Não consigo, sequer, sentir o cheiro. Neste caso, salvam-se as batatas esmagadas, ali bem perto do delicioso puré – não sei porque não fazemos antes um puré – e a alcachofra, que também combina divinamente com o meu palato. Já que saltámos o borrego, e optámos pelo puré de batata em vez das bem mais desengraçadas batatas esmagadas, porque não decidirmos já uma variante vegetariana? De uma só vez, salvamos a vida a um carneirinho, vulgo mé-mé (não confundir com meme), evitamos demasiados tachos no fogão e ainda embarcamos no trend da comida saudável, mas sem exageros, que tudo o que é demais não presta. É, de facto, um tudo em um a não descurar. Passemos ao puré, o qual deve ser passado num passe-vite – ou passe rápido, em bom Português – e levar tudo aquilo que já se sabe, sem esquecer a noz-moscada, como, por vezes, já me canso de dizer. A bela alcachofra, coqueluche dos romanos, pode ser cozinhada quase de todas as maneiras e ainda dá um toque inusitado a qualquer arranjo de flores, que se pretenda estupendo, e apazigua esse desejo de naturezas mortas. Para esta última possibilidade, a do bouquet, que é a minha eleita, por favor, não cozinhe a alcachofra. E é tudo. Mentira, afaste a alcachofra do alcance do borrego, não vá o filhote de ovelha – que mantivemos vivo, e é agora animal de estimação cá de casa, de seu nome Inácio, recorda-se? – gostar desta planta.

Ingredientes:

– Um mé-mé vivo para companhia

– Batatas

– Manteiga

– Leite (para o puré e para o borrego)

– Noz-moscada

– Alcachofras

– Uma jarra, ou mais, depende do número de bouquets que decidir fazer

Tempo de preparação:

Ora, três e sete são dez, noves fora… A mim dá-me cerca de uma hora, será? Não sou fã de matemática, mas sempre gosto mais desta disciplina do que de borrego morto e guisado.

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