Diminutivos: o que são e como empregá-los
First things first, que é como quem diz, comecemos pelo principal. Diz-se e, já agora, escreve-se diminutivo(s) e não diminuitivo(s). Diminuitivo não está consagrado na língua portuguesa, nem o encontrará grafado em qualquer dicionário, logo, o plural, diminuitivos, também não existe, pelo que, deles não falaremos.
Posto isto, vamos aos diminutivos. Estes, sim, existem e são sufixos que se acrescentam às palavras, substantivos (casinha) ou adjetivos (bonitinho) e que acrescentam ao significado da palavra a ideia de pequenez, de estado mínimo da coisa. É o grau ‘inho’ da vida. Está para as palavras como o programa errado da máquina de lavar roupa para as lãs. É o ‘Querida Encolhi os Miúdos’ da gramática. O nanismo do léxico. Pense neles como… joaninhas: Joanas pequeninas do universo. Isso mesmo.
Mais pequenino
São, grosso modo, uma ferramenta útil. Se um monte é pequeno, podemos designá-lo de montinho.
Se uma casa é mínima é uma casinha.
Mais qualquer coisa
Se um parvo é parvo e ainda insignificante e até um pouco tonto, é parvinho.
Se um doce é excecionalmente doce ou se se apresenta em doses pequenas é um docinho.
Se alguém é bom e benemérito ao ponto de se prejudicar a si próprio para ajudar terceiros, mesmo que não os conheça, é bonzinho.
Menos qualquer coisa
Se alguém até é giro, mas apenas no limite dos mínimos olímpicos da beleza, é lindinho.
Se um hotel é acolhedor q.b., mas apenas isso – percebem? –, passa a ser simpaticozinho.
Se tiver mesmo de ser
Se tem um lápis pequeno e faz muita questão disso, pode considerá-lo um lapisinho ou lapisito.
Dedo mindinho, em vez de mínimo, se isso verdadeiramente lhe apraz.
Princípio básico imprescindível
A comparação é primordial e fundamental. O diminutivo só existe na relação com o grau normal das coisas. O dito padrão. O nível. Não perder jamais de vista essa referência. Apregoar ao mundo que viu um pequeno ‘escalolenogeiro’, ou seja, um ‘escalolenogeirinho’, não tem significado, pois não se sabe o que é, como é, e qual a dimensão média de um ‘escalolenogeiro’, por exemplo. Já se falarmos em joaninhas, lá está, todos entendem a alegada escala, pois joaninhas (que são de facto mínimas) são e serão sempre Joanas pequenas, ou pequeninas, ou mesmo ínfimas, já que estamos a diminuir o universo.
Fonte de confusão
Um gigantezinho, exceto em liberdades poéticas e delírios alucinogénicos, provocados por drogas maradas, não é esclarecedor. Quanto mede um gigante, em termos médios? Em que medida exata um alegado gigante é pequeno dentro do seu género? Não é por aí. Compreendido?
O que não tem perdão
Casaquinho? O que leva alguém a designar uma peça de roupa pelo diminutivo, quando a dita é de adulto e em tudo igual a um casaco normal, de dimensão mediana?
Jantarinho? Compreende-se o que é uma refeição ligeira, um jantarinho é apenas muito irritante.
Estão a acompanhar-me?
Utopias
‘Arruzinho’? A sério? O que é isso? Um bago de arroz tão ínfimo que tem de ser observado ao microscópio? Um prato de arroz mauzinho? Deixem-me começar por dizer que ‘arruzinho’ não existe. Se insiste em apregoar ao mundo culto e letrado, ou apenas junto de amigos ou colegas de trabalho que, ontem à noite, fez um ‘arruzinho’ com uns restos de peixinho do almocinho da véspera, deixe-me dizer-lhe desde já que você é transparente. Só com base nessa informação, sei, desde já, tudo sobre si.
1 – Nunca gostou de estudar
2 – Parece mais velho do que na realidade é
3 – Tem sérios problemas de audição
4 – Os seus hábitos de leitura são… inexistentes
5 – Os seus melhores amigos são os seus pais
6 – Nunca entendeu porque não consegue fazer e/ou manter amigos
7 – É um solitário involuntário
8 – É um pouco patético
9 – Julgo que não há necessidade de continuar esta check list, até agora 100% exata, certo?
Outra coisa: diminutivos NÃO SÃO sinónimo de qualidade
Um queijinho com um vinhinho não quer, de forma alguma, dizer que um e outro eram extraordinários. Isso só acontece na cabeça de quem devota uma fé desmesurada nos diminutivos. O diminutivo não acrescenta qualidade ou sabor. Diminutivo encurta tamanhos. Como o nome indica, di-mi-nui. Neste caso, não quer sequer dizer que o queijo e o vinho seriam de tamanho diminuto. É apenas parvo, usar diminutivos por dá cá esta palhinha, não vos parece?
O ‘gilletzinho’?
O abuso, principalmente o pouco esclarecido, seja em que área for, é revoltante. Se apenas usamos gabardina quando chove, luvas quando faz frio e gelado de limão com chocolate quando nos apetece, porque havemos de empregar diminutivos ao calhas? Fazer um ‘arruzinho’ de bacalhauzinho enquanto usa um ‘giletzinho’ pelos ombros porque está fresquinho, é apenas fazer um sofrível, agoniante, agonizante e de muito mau gosto uso da língua portuguesa. Isto sem prejuízo para o arroz de bacalhau que, se calhar, até ficou no ponto e do gilet que, às tantas, até é de boa caxemira e tem uma cor fantástica. Porém, apresentados dessa forma, ninguém fica para saborear o primeiro ou apreciar o segundo.
Apenas ridículo
Bebezinho? De certeza? Bebé já significa ser humano pequeno, recém-nascido ou a viver os primeiros meses de vida, os quais se estenderão, digamos, até ao segundo, terceiro ano de idade. Bebezinho, não sei bem o que significa. Será o mais pequeno do berçário? Da família? Dizer bebezinho é como dizer mindinhozinho. Caramba, o grau normal da palavra já remete para pequenino, para quê complicar?
Quem diz bebezinho, diz outras barbaridades
Pior do que bebezinho: leitinho. Leitinho é de tirar qualquer um do sério e levá-lo para uma outra dimensão de liliputianismo. O que é um leitinho? Como classificar o leitinho em relação ao leite? O que é um leite pequenino? Se o que quer dizer é pouco leite, leite em pouca quantidade, diga-o assim mesmo: pouco leite. Porque leitinho é apenas ridículo. O mesmo se aplica à bananinha, ao carrinho e se intensifica em desânimo gramatical quando se avança para o popozinho. Popó já é um pouco totó. Logo que as crianças sabem pronunciar sons, porquê baralhá-las com palavras tolas que terão em breve de substituir pelas corretas? E porquê, ainda, passar de popó ou popozinho (ai, que nervos!) para carrinho e não logo para carro? Carro é uma palavra bem mais fácil e curta do que carrinho, e se a intenção é facilitar a vida a quem está ainda a aprender a falar, tudo aponta para que o mais acertado e correto seja ir logo para carro, sem passar por um ponto intermédio que é, em tudo, mais complexo, inútil e desnecessário.
O mesmo princípio assiste à relação entre cão e cãozinho, ok? E que me dizem de abacateirozinho? E bezerrinho? E adeusinho? Adeusinho é demais! Mas aquilo que nos mata é quando nos querem dar uma ‘palavrinha’. Primeiro, não estão a dar coisa alguma. Querem e esperam ‘palavrinhas’ de volta. Segundo, aquilo que debitam são sempre, sem exceção, palavras normais, algumas até grandes, e, por norma, não são conversas breves. Terceiro ‘palavrinhas dadas’, ao contrário daquilo que o diminutivo poderia sugerir – coisinhas boas, pequeninas e simpáticas –, são sempre chatices e, não raras vezes – agora sim, um diminutivo aceitável e bem empregue –, ‘dar uma palavrinha’ é fazer queixinhas, fazer um reparozinho ou pedir um favorzinho. Mais uma vez, é desagradável e evitável. Ficamos por aqui, ou avançamos para Zézinho? É que se já se abreviou José para Zé, para quê, depois, crescer o nome tornando-o maior do que o original? Primeiro, sumariza-se, para depois se escrever uma tese em torno do nome? Ultrapassa-me.
O senhor dos aneizinhos
Tomemos o ‘Senhor dos Anéis como exemplo e não importa se leu os livros ou viu os filmes. As personagens eram ricas e variadas e contemplavam seres gigantes, homens, hobbits e anões e aquele outro, o rastejante – que repetia até à exaustão: “my precious, my precious” –, por esta ordem de alturas. Numa obra que deve tanto ao imaginário, e onde tudo é possível, porque será que, ainda assim, não encontra nela hobbitezinhos ou anõezinhos? Estes apenas existem naquela outra história da carochinha, em que a Branquinha encontra todos aqueles homenzinhos pequeninos numa florestazinha muito lindinha, não é? Sabe uma coisa? Limite todos os diminutivos que conhece ou julga conhecer, a esta hedionda história, pode ser?
Sugestãozinha
Fãs de diminutivos – esta é uma informação preciosa –, já há palavras acabadas em ‘inho’ que são muito, mas mesmo muito jeitosas e não deixam quem quer que seja malvisto. Vizinho, caminho, cominho, madrinha e padrinho, fuinha, bainha, linha… Porque não vos contentais com elas? Por favor, não andem para aí a encolher o mundo.
Mas claro que é apenas uma opiniãozinha que eu cá tenho.
Espero que me tenha feito entender… amiguinhos!
Que artigo lindinho! Vou enviar link para ser lido pelo meu fofinho. Obrigadinho!