Que grande ‘feta’ que vai ser! Ainda mal entrámos na cozinha e já sentimos no ar aquele doce odor a sucesso garantido. Há receitas assim, inspiradoras. Ao manusear certos ingredientes, sentimo-nos como malabaristas, perante uma boquiaberta plateia de totós, atirando ao ar, com destreza e habilidade, 13 dos nossos melhores pratos de porcelana, um trio de laranjas do Algarve, o vizinho chato do terceiro esquerdo e ainda aquela moinha que não nos larga sempre que visitamos a sogra, sem nada deixar cair ao chão, mas esperando que caia com estrondo o vizinho e a moinha, a bem da verdade. São momentos de magia como este que nos entusiasmam e contagiam, fazendo com que diariamente entremos neste antro de alquimias com garra e vontade, achando sempre que é hoje que vamos mudar o mundo. Pois bem, vamos a isso. Esta é, por excelência e sem exageros, uma mescla de cores e saberes que nem requer prova gustativa. Vamos às cores. Logo que se pronuncia salada, o verde salta-nos à vista e enche-nos de frescura e esperança. A inesperada couve, quase nunca convidada para estas orgias vegetarianas, menos ainda na sua versão nua e crua, dá-nos aquele murro no estômago, como que a dizer: ‘Por esta é que não estavam à espera, mas eu aqui estou em todo o meu esplendor púrpura.’ Por ser roxa, possibilita aquilo que por aqui chamamos de cromossomatório, que é uma soma de cor ao prato. Assim, até ao momento, já temos o verde e o roxo e a ele se junta o vermelho da maçã. Quando julgávamos não poder haver mais alegria visual num prato, eis a punch line, aquele momento final, que ninguém aguardava, mas que vem dar sentido a tudo o resto, o branco amanteigado do inesperado queijo feta e o seu sabor contrastante com todas as anteriores texturas. O mesmo efeito gritante é consumado ao nível do palato, onde a dança forma exóticos pares de agridoce, acidvegan e lactosurprise – tudo termos acabados de inventar, mas que se autoexplicam, até porque para bom entendedor semipalavras bastam, e vós sois todos espertíssimos. Um prato delicioso, capaz de extasiar qualquer comensal, sóbrio ou não, dadas tantas parcerias inauditas. Ela joga com os ácidos e o trend vegan, e ainda pisca o olho aos carnívoros, com o toque inesperado do queijo. Foi de tal forma inspirador montar este prato, que ainda adicionámos amendoins triturados e sultanas de várias cores que tinham sobrado da última ou penúltima passagem de ano, que o bom das passas é que duram uma eternidade sem grandes adulterações de sabor. No final, tempere a gosto, com o tradicional azeite e vinagre de Modena, ou molho de iogurte, ou de mostarda, ou qualquer outro do seu agrado.

Ingredientes:

– Salada verde

– Couve roxa

– Maçã vermelha

– Queijo feta esbranquiçado

– Sultanas de vários tons

– Amendoins no único tom que lhes conhecemos

Tempo de preparação:

Com robô de cozinha, menos de nada. Manualmente, depende da sua destreza, de quão afiadas estão as suas facas e do entusiasmo que a receita lhe suscitar. É coisa para durar um episódio de telenovela.

  

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