Henrique
Voltou a olhar pelos binóculos de visão noturna. Uma sofisticada engenhoca, com possibilidade de se adaptar à cabeça, tal como um capacete mágico, que parecia tirada do equipamento profissional de um soldado norte-americano, ou um muito credível adereço de uma qualquer série militar, daquelas que enchem os canais TVSéries e Fox Crime. Mas não era de brincadeira, era bem real. Tinha-a comprado no eBay, pelo que o mais certo era pertencer à primeira hipótese. Talvez já tivesse feito algumas missões no Afeganistão ou Irão, era até bastante provável, a avaliar pelos traços visíveis de exaustivo manuseamento e uma imagem semiapagada que bem poderia ter sido a bandeira dos EUA, mas nenhuma que se revelasse tão importante e premente como aquela que agora servia. Uma vigilância profissional, com registo de horas de entrada e de saída, descrição de movimentos, anotações precisas num bloco encetado especificamente para aquele efeito. Roupa preta, carros (vários, todos eles alugados ao dia, para não acabar por ser notado ou reconhecido) com vidros traseiros fumados, de onde tudo observava, um gorro passa-montanhas, um bom fornecimento de sandes diversas, uma garrafa-termo com café bem forte, para se manter acordado, atento e vigilante e aqueles binóculos ultraprofissionais de visão noturna, verdadeira pièce de résistance, e o mais dispendioso e preciso dos investimentos para aquela missão. Se bem que, para usar de rigor, o maior investimento era de outra natureza e prendia-se com o tempo que lhe exigia e o cansaço que lhe provocava, já que continuava a (tentar) manter o seu emprego diurno, enquanto contabilista sénior numa multinacional do ramo editorial. Dava graças a Deus por ter um gabinete, transformado, nas últimas semanas de vida dupla, em retiro de longas sestas.
Quem o visse, equipado daquela maneira, em constante e profissional vigilância daquela moradia, correção, do cretino que habitava aquela moradia, podia tomá-lo por um qualquer sociopata, um louco obstinado, um ladrão em pleno planeamento de um mega assalto, um possível raptor, um detetive privado em busca de infidelidades… Deixem-se de guiões básicos. Aquilo era vingança. Da pura. Da séria. Da mais honesta e visceral. Uma dívida que gritava por ser saldada. O cretino que Henrique vigiava era um burlão profissional, esmerado e requintado. Um falinhas mansas que, com conversa de vigarista internacional, o tinha convencido, com grande facilidade – e isso era aquilo que mais lhe custava admitir –, em investir num negócio “extraordinário”, algo que “simplesmente não pode dar errado”, um “investimento seguríssimo”, com “juros imediatos”, algo que interligava o imobiliário e o crédito para aquisição de casas e ainda uma seguradora… Tudo falso, tudo linguagem dissimulada para encobrir uma óbvia verdade, que ele, logo ele, contabilista sénior, deveria ter farejado à distância: um negócio multinível, que, no fundo, não passava de um esquema em pirâmide. Será que não o tinha percebido, mesmo?
Henrique, lá no âmago dos âmagos, naquelas traseiras do seu raciocínio matemático, nas vísceras da sua mente lógica, não teria, de verdade, desconfiado de todas as benesses? Da proclamada ausência de risco? Não teria antes percebido muito bem tudo isso e preferido ignorá-lo? Pensado que, se lhe calhasse algum, uma boa sorte grande repentina, isso lhe desfocaria os pruridos morais que estas jogadas financeiras, desenhadas para roubar os incautos, suscitam? Não teria acreditado, e previamente aceitado, que viveria bem com a ruína de pequenos, médios ou mesmo grandes investidores, que, em busca do seu pote de ouro, arruinariam as suas pacatas vidas de pais de família, em busca de um pé-de-meia que permitisse aliviar o custo das propinas dos filhos? Não era isso um pacto com o Diabo? Desde que ele ganhasse algum, desde que ele não fosse contagiado com o vírus, não se incomodava em que ele fosse libertado na atmosfera. Apenas importava que ele estivesse imune.
Porém, cada um deve aprender a viver consigo próprio, e Henrique há muito que aceitara as suas falhas de caráter, a sua ambição desmesurada, a sua ânsia de riqueza e mesmo em termos morais, sentia-se uns furos acima daquele estupor. Ele, Henrique Morais (ainda mais essa do apelido moralista), jamais envolveria pessoas num esquema manhoso, obscuro e ilegal. Entrar nele, como quem joga na roleta, arriscando a sorte, tentando driblar o destino, é uma coisa, levar propositadamente alguém a apostar num número que, à partida, sabe ser o perdedor, é outra bem distinta e muito mais sórdida, do ponto de vista ético e moral. Isto segundo as contas do deve e haver da bolsa de valores de Henrique.
Por isso espiava. Queria conhecer todos os passos daquele cretino e fazia-o à moda antiga, mas já tinha em vista um pequeno drone, que lhe permitiria fazer tudo isso à distância, com menor esforço, e já tinha pré-instalado todo um equipamento de pequenas e discretas câmaras de vigilância totalmente wireless, montadas nas árvores fronteiriças à sua casa e escritório, através das quais poderia, muito em breve, detetar todos os movimentos do burlão, sem aquelas incursões noturnas, que já começavam a fazer mossa no casamento de Henrique, com a bela e esperta Filipa, que não ia na história dos serões de trabalho, inéditos até à data, em nome de uma possível fusão de grupos internacionais. Uma muito boa desculpa – mas não eterna – que inventara na hora, naquela noite fatídica em que ela lhe perguntou diretamente se tinha uma amante, e se preparava para sair de casa.
Devia ter-lhe contado a verdade, que estavam à beira da bancarrota, por conta do muito dinheiro, a quase totalidade das suas poupanças familiares, que investira atrás de lucros fáceis e, obviamente, ilegais. Mas era-lhe impossível apresentar-se como um tonto crédulo e manipulável, um derrotado, em frente à mulher que amava. Henrique, simplesmente, não concebia tal hipótese. Mais facilmente se permitiria perder a mulher da sua vida, numa rede de mentiras e falsidades, do que desnudar a sua idiotice perante ela. Orgulho ou estupidez? Ou ambos? Pois seria tudo isso, mas, em seu entender, era muito mais lógico aquele intrincado esquema de vigilância, com vista a desmascarar o vigarista ou, quem sabe – já tinha ponderado sobre isso durante as largas e vazias horas de observação noturna –, desforrar-se quebrando-lhe simplesmente os quatro membros, superiores e inferiores, em vários sítios clinicamente estudados nesse grande compêndio anatómico que é o Google.
Para já, aguardava. Expectante, com a mente a fervilhar de hipóteses e ódio, parte deste, sabia-o, era mais dirigido a si mesmo do que ao outro infeliz. Já sabia quem era o superior hierárquico do esquema, as horas a que falavam e se encontravam, onde acontecia a maior parte das reuniões de ‘doutrinamento’ de novas vítimas, quase todas de poucas posses. Já devia haver desespero no negócio, já estavam na fase ‘hipermercado’, em que se aposta num maior número de investidores, no que no valor dos investimentos. A bolha devia estar prestes a rebentar. Antes desse momento crítico, queria ser ele a denunciar toda aquela gente. Teria, então, tudo bem documentado. Matrículas de carros, nomes da cúpula, filmagens de encontros, números de contas… Estava a ficar expert. No final, caso não se sentisse suficientemente vingado, não deixaria de reconsiderar a tal história em que partiria ossos. Nem sequer se preocupava com possíveis consequências criminais e jurídicas. Preferia que Filipa o visse como um bruto inconsequente, do que como um tolo ingénuo.
Com o que Henrique não contou, foi com a astúcia do ‘vígaro’, que, não obstante todos os seus esforços e detalhe do equipamento, o topou ao cabo de algumas semanas de vigilância. Alerta, como qualquer bandido, reparou num carro, de modelo diferente a cada dois dias, mas sempre de vidros fumados, que invariavelmente estacionava naquela rua meio deserta daquela abastada zona residencial, onde quase todos se conheciam e sempre em locais de onde a sua casa era a mais facilmente observada. Receoso de que fosse a judiciária, mas crente de que não poderia ser, uma madrugada, em que Henrique dava o seu turno por concluído, o vigarista vira o jogo e parte no encalço de Henrique. Tudo se precipitou. Ciente de que estava a ser seguido pelo estafermo, e de que não poderia conduzi-lo, nem à sua casa, nem ao seu emprego, Henrique trava de repente – uma cena estupidamente corajosa ou suicida, dependendo do ponto de vista, mas muito cinematográfica – e dá-se o brutal acidente. Nem precisou de sovar o estafermo. Quando saiu do carro e foi ver o estado da alminha, percebeu facilmente, tal eram os ângulos que os ossos faziam sob a pele ensanguentada, que o vendedor de banha da cobra que quase o levara à falência, já tinha os membros quebrados. Sussurrou-lhe ao ouvido que da próxima vez que se encontrassem, planeava partir-lhe ossos da coluna, apenas não sabia se isso aconteceria antes ou depois de conseguir expor o seu vil esquema de enriquecimento ilícito, à conta dos mais pobres. Chamou a polícia, referiu um cão a atravessar a estrada, uma travagem louca, em plena via rápida, e tudo ficou entregue às seguradoras, já que a nenhum dos dois convinha a verdade dos factos.
Alexandre
Alexandre sabia as muitas contas que teria de acertar com Deus, um dia. Não sendo o Diabo em pessoa, reconhecia as muitas falhas e os atos que continuamente o mantinham naquele limite de dignidade que separa os bons dos maus homens. No entretanto, satisfazia-se com confissões semanais. Sempre à quarta à noite, em diferentes igrejas, para que padre algum – não esquecer que mesmo sendo homens de Deus, são antes de mais, isso mesmo, homens, e convém que ninguém saiba tanto quanto nós – ficasse na posse de toda a informação. Também não dizia tudo, tudo, nem o dizia tal e qual. Romanceava um pouco a obra a seu favor, piscando o olho aos Céus, como quem diz, um dia, com mais tempo, voltaremos a este tema. Com os pratos da sua balança a penderem para a alegre vilania quotidiana, na qual orgulhosamente se via como um ser superior a todos os outros idiotas com quem se cruzava, sentindo-se capaz de enganar qualquer um, e disso necessitando, primeiro por carências financeiras, depois por mera extensão dessa prática de vida, Alexandre tinha começado a pensar num plano de redenção para o futuro. Já que a bondade e o apreço abnegado pelo próximo não lhe era natural, ainda que não sendo um total sociopata, tinha começado a planear boas ações, boas práticas sociais e interpessoais, naquilo que se pode considerar um projeto a médio e longo prazo. Começara com a esmola que deixava após cada confissão. Pensava, em breve, patrocinar uma associação de apoio aos sem-abrigo e, com mais calma, ser mecenas de estudantes universitários.
Imbuído deste investimento ético e moral a longo prazo, que um dia lhe permitiria poder negociar com Deus e o Diabo uma melhor situação – que o Inferno, a avaliar por Dante, não é pêra doce seja qual for o nível de punição –, Alexandre deu por si a cometer uma loucura, quer para os padrões de frigidez que sempre tinham norteado os seus atos, quer para o seu inato móbil pouco humanista. Justificava-se, no ajuste de contas diário com a sua mente, que aquilo era viciante. Que a gratidão dos outros perante um gesto gentil e desinteressado cria tanta dependência quanto uma droga. Duvidava seriamente que estivesse a ficar adicto, ou que não conseguisse deixar essa ‘droga’ sempre que entendesse. Conhecia-se suficientemente bem para não depositar demasiadas esperanças na sua reabilitação afetiva. Apenas achava divertida a sensação que lhe causava o agradecimento alheio. Era uma coisa mais paternalista, fruto do seu enormíssimo complexo de superioridade, do que algo ligado a qualquer tipo de redenção. Convém não dourar a pílula, até porque se desconhecem pílulas douradas.
Porém, com base nessa génese primeira, nesse carácter meio disfuncional e extremamente egoísta – até porque se desconhecem verdadeiramente as origens e os móbiles dos ditos seres bondosos –, também não se deve minorar ou subvalorizar de qualquer forma, uma boa ação. Uma boa ação vale-se por si mesma, independentemente da moral ou falta dela que a tenha motivado. Assim, para o que aqui conta, Alexandre tinha acabado de cometer um gesto soberbo, miraculoso em qualquer circunstância, uma “verdadeira loucura”, comentariam as redes sociais no dia seguinte. Alexandre saltou para a linha de metro, para onde tinha saltado, antes de si, uma jovem que, desesperada, tentava encontrar o anel de noivado que tinha caído para o meio do balastro e das travessas, por onde vasculhava como louca e já perto das lágrimas, surda à aproximação de uma composição e aos gritos daqueles que, da plataforma a mandavam subir. Calculando distâncias – a fuga sempre tinha sido uma das suas mais-valias na vida, sendo a mais valiosa aquela que o tinha tirado do antro humano em que tinha nascido –, num ato que seria, logo ali, descrito como sobre-humano e heróico, ele eleva e empurra a rapariga para a plataforma, para onde é puxada por braços aflitos, enquanto ele, percebendo que já não o pode fazer, se aninha entre as traves, forçando o rosto nas ásperas pedras do balastro e, assim, também ele escapando à voracidade do metro, mas não se livrando do maior susto da sua vida, ao qual se somou o ruído infernal da súbita e brusca tentativa do condutor de frear o animal de ferro.
A lei da compensação é uma coisa curiosa. A rapariga, que chorava e ria, pois, nem se sabe como, tinha recuperado o anel no meio de tudo aquilo, abraça-o e, em menos de nada, conta-lhe praticamente toda a sua vida. Felizmente, pensou Alexandre, ainda não muito talhado para estes afetos espontâneos, era uma vida ainda curta. O pai, à beira da falência, embora o escondesse, o casamento dos pais por um fio, o amor da sua vida, o pedido de casamento e aquele anel que ainda nem tinha tido tempo de mostrar aos pais e ao irmão. Finalmente, uma boa-nova num período negro. De tão feliz, punha e tirava o anel do dedo, para o admirar de todas as perspetivas e eis que ele salta para a linha e… Lágrimas e mais abraços e mais um pedaço de história e o inexplicável convite para que fosse padrinho do seu casamento. Mais do que salvar o anel, ele tinha-lhe salvado a vida. Meio apalermado e completamente desarmado, Alexandre deu por si a dizer o ‘sim’. Pois que seria o padrinho com todo o gosto.
Por isso, hoje, quarta-feira, o que tinha para confessar, era uma coisa extraordinária. Impossível ouvir aquela confissão duas vezes na vida. Padre algum a terá ouvido, quase apostava. Para equilibrar as coisas, hoje não deixaria esmola, pois não queria uma brusca passagem para as boas práticas do Paraíso. Um passo de cada vez. A felicidade da jovem, os olhares de admiração da assistência… Estava cheio de si próprio. Quer dizer, ainda mais do que o costume, por isso, cheio de ganas, estava decidido a resolver aquele problema que começava a agastá-lo mais do que o necessário. Antes, porém, de se embrenhar nesse outro plano, decidiu que aquela miúda, daria uma ideal primeira estudante no seu plano de mecenato académico. À conta dela faria toda uma família feliz, principalmente, como imaginava, o pai pré-falido.
Mariana
O episódio, dramático e com final feliz, os mais apreciados, tinha dado brado nas redes sociais e, no dia seguinte, a imprensa mais vocacionada para os pequenos grandes nadas da vida talvez fizessem eco disso e Mariana não queria que os pais e o namorado, agora noivo, conhecem o seu anjo protetor pelas redes sociais ou qualquer outra descrição que fosse feita por outros que não ela e o próprio. Por isso, ainda que tivesse tido de insistir bastante, o seu salvador, como lhe chamava, foi convidado a ir jantar a sua casa no dia seguinte, sem demoras.
– Tem de aceitar, por favor. O que fez por mim…
Após os mimos, elogios e insistência de Mariana, Alexandre acedeu. Aquilo era avesso a tudo aquilo que o fazia genuinamente feliz, o que não incluía convivência e socialização com estranhos. Todavia, reconsiderou no próprio instante em que insistia no não definitivo, havia que marcar pontos no lado bom da sua lista, além de que aproveitaria para brindar a sua nova, e única, afilhada, com a já pensada bolsa de estudo. Um presente de casamento imbatível. Além disso, para quem acabava de aceitar ser padrinho de casamento de uma estranha, bizarro seria não ir conhecer os pais da miúda, além de que nunca fora de deixar o mau para o fim. Era acabar de vez com tudo aquilo e somar coisas boas ao confessionário da próxima semana.
Em casa de Mariana, os ânimos eram complexos e indescritíveis. Oscilavam entre extremos que se opunham e se anulavam. Os pais, que por esses dias mal se falavam, queriam reagir à altura da notícia, mas o momento de crise emocional, familiar e financeira retirava espontaneidade tanto à alegria, quanto à tristeza. A filha quase tinha morrido por um ato tolo e irrefletido, lançando-se para a linha do metro atrás de um pedaço de metal. Pareceu-lhes recriminável. Recriminável, mas adorável, como também entendiam. Ainda se recordavam de quando o amor agia assim nos seus corações, ditando atos irrefletidos e idiotas, loucuras e tanta estupidez. Tudo isso polido pela inquebrantável lima do bem-querer. Era o lado ternurento e apaixonado daquele estranho episódio. A filha tinha sido pedida em casamento e isso era ainda o que lhes parecia mais absurdo. Era uma criança, só agora ia entrar para a faculdade… Que loucura! Mas por pouco não a tinham perdido nesse mesmo dia. Talvez isso tivesse acontecido para lhes dizer que a vida se vivia no agora, que a felicidade não se deve nem pode adiar ou suspender. Que devemos sorver cada possibilidade de riso, cada hipótese de gargalhada. Amanhã é outra coisa e cada dia é uma unidade a ser resolvida no seu espaço de tempo, dentro dos seus limites. Não adiar. Não carregar pesos para a unidade seguinte. Esgotar as coisas quando estas ocorrem. Resolvê-las. Apreciá-las. Pode juntar para a reforma, mas não guarde tudo para a reforma. Pode fazer planos, mas não se deixe em suspenso até lá. Podiam ter perdido Mariana nessa mesma manhã. O pai recebeu toda a informação como sinal de que tinha de agir, terminar a missão que o absorvia por esses dias. Depois, contar a verdade à mulher. Confessar os seus erros. Livrar-se de pesos, ganhar forças para recomeçar nova etapa, com mais ardor e paixão. Conhecer o homem que tinha salvado a vida à filha. O homem que, sem o saberem, tinha salvado a vida de todos eles, que sem Mariana morreriam. Que sem esta noção de finitude, de que o momento, cada momento importa e deve ser usado para agir, talvez alongassem mentiras, adiassem decisões. Era hora de agir e também eles se atirarem para a linha, salvando o que conseguissem. Amanhã seria outro dia. Tudo seria novo e diferente.
A meio da tarde do dia seguinte, Mariana ligou ao seu salvador, para confirmar a hora do jantar e informar detalhes sobre a morada e que poderia parquear no estacionamento do condomínio, bastava que lhe ligasse quando estivesse a chegar. Não foi o próprio quem atendeu o telefone, mas um assistente que informou Mariana que Alexandre não poderia ir. Mariana, desapontada, mas compreensiva, ia anuindo à voz que, do outro lado, tudo lhe explicava. Eram sérias as razões. Não havia como compreender e aceitar. Perguntou se podia ajudar, como poderia ser útil.
– Compreendo. Se não for incómodo, voltarei a ligar, para saber notícias.
Logo que desligou, anunciou ao pai, o primeiro a chegar a casa nesse dia.
– Imagina a coincidência, tal como tu, também o Alexandre teve um enorme acidente esta madrugada e ficou completamente imobilizado, devido a inúmeras fraturas. Segundo percebi, está péssimo, nem consegue falar, além de que está completamente sedado e nem está a receber as visitas regulares. Olha só a coincidência. Felizmente, tu estás bem, pai.
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